"Chama-se 'Cabeça', mas não tem a ver com a essa ideia de racional. É mais sobre libertar aquelas vozes da cabeça ou quando nos dizem para parar de pensar demais nas coisas. Inconscientemente é um disco muito mais emotivo", explicou.
"Cabeça" foi composto e gravado quase na íntegra no Convento da Saudação, um edifício centenário, envelhecido, no ponto mais alto de Montemor-o-Novo, o que deixou marcas nas gravações. Nas canções ouve-se a acústica da sala onde foi gravado, assim como a respiração de Rui Carvalho no dedilhar das seis cordas da guitarra clássica.
O músico, de 33 anos, diz que acabou por fazer um disco mais contemplativo e desacelerado que o álbum de estreia, "Palácio", editado em 2011: "É menos pensado, há mais improvisação e tem aquela qualidade da banda sonora que não encontrei no primeiro".
Há dois anos, Rui Carvalho, com antecedentes no hard rock - é um dos músicos dos If Lucy Fell -, dividia-se entre a música e um minucioso trabalho de arqueologia, em busca de vestígios humanos em escavações subterrâneas. Depois de ter lançado "Palácio", o músico não voltou a sentir o cheiro da argila, metendo as mãos apenas na guitarra clássica, pesquisando melodias, tempos, dedilhados.
Há dois anos, dizia que a relação com a guitarra acústica ainda era de "amor-ódio", por não dominar por completo o instrumento. "Hoje estou um bocado mais em paz, gosto muito do acústico", admitiu.
Em várias entrevistas, Rui Carvalho foi mencionando vagas referências a Carlos Paredes ou a Paco de Lucia, admitindo agora, por exemplo, afinidadades com a música acústica do Mali, isto porque um dos temas chama-se mesmo "Mali provisório".
O alinhamento de "Cabeça" fecha com "Sem demónios", música que revela o lado mais rock do guitarrista e se diferencia de todas as outras, porque é tocada com guitarra elétrica e inclui a participação de dois outros músicos: Guilherme Gonçalves, que gravou e masterizou o álbum, e Cláudia Guerreiro, baixista, ilustradora e mulher de Rui Carvalho.
"Cabeça" é um disco em edição de autor e será apresentado hoje no Teatro do Bairro, em Lisboa. Seguem-se concertos em Castro Verde (dia 22) e Setúbal (dia 23), antes de uma série de cinco atuações em França (numa igreja em Paris), Holanda e Espanha.
@Lusa
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