À medida que iam chegando à aldeia alentejana, os elementos do coro da associação cultural Casa da Achada – Centro Mário Dionísio já vinham afinando as vozes. Concentrados no largo do centro histórico, ainda tiveram de esperar que os músicos que atuarão esta noite ensaiassem, mas depois arrancaram ruas fora, a várias vozes, seguidos por dezenas de pessoas.

Criado há quase cinco anos, o Coro da Achada nasceu da “vontade” de “um grupo de pessoas que, sem saber cantar, acha que pode cantar em conjunto, uns com os outros”, explicou à Lusa Youri Paiva, frisando que quem quer participar “não tem que provar que sabe cantar”.

As pessoas "entram e saem, é um coro aberto”, realçou Youri, envolvido desde o início, referindo que, atualmente, as idades dos cantores amadores vão “dos 20 e tais até aos 60, 70”, mas já chegaram a ter crianças também.

Há quase vinte anos, Helder Pina cansou-se de ser funcionário público na Guiné-Bissau, à espera seis meses pelo salário, e, como a mãe e os irmãos já estavam em Portugal, veio também.

Helder foi parar ao Coro da Achada por engano. Tinha começado a participar no grupo de teatro do Centro Mário Dionísio e baralhou os horários. “É muito bom, para não estar desocupado […], conversar com pessoas, pessoas de bem. […] Eu gosto de companhia de boa gente”, partilhou.

O repertório do Coro da Achada “é muito variado”, resumiu Clara Boléo. Das criações próprias e dos poemas de Mário Dionísio, de quem gere o espólio, o grupo viaja também por “canções de luta do mundo inteiro, em várias línguas diferentes”.

O grupo não tem uma "carta de princípios", mas não disfarça a simpatia pelos ideais de esquerda, entre canções “antigas que estão atuais”, outras que “apontam para o futuro” e parabéns que se cantam ao ritmo de “A Internacional”.

@Lusa