As vozes de Rui Veloso, Luís Represas, Paulo Gonzo, Clã, Blasted Mechanism, Santos e Pecadores, Da Weasel, Pólo Norte, Delfins, GNR e Silence 4 dariam, entretanto, vez ao sotaque estrangeiro de artistas como Guano Apes, Fun Loving Criminals, The Prodigy, Peter Murphy, Macy Gray ou James, que tratariam de animar os festivaleiros nortenhos nas mais recentes edições do Marés Vivas.
Prometidos para 2009 estavam,por sua vez,os mais sonantes nomes de sempre: Kaiser Chiefs, Scorpions, Keane, Lamb, Guano Apes, Jason Mraz, Secondhand Serenade, Gabriella Cilmi, Primal Scream e Colbie Caillat protagonizavam um cartaz claramente dedicado às sonoridades provenientes do Reino Unido e da Alemanha.
Mas a ambição do Marés Vivas – que arrancou ontem, pelas 19h00, no recinto do Cabedelo, e que se prolonga até ao próximo sábado, dia 18 de Julho – não se cingiu à qualidade do alinhamento musical, tendo, sobretudo, surpreendido o espaço que acolheu o evento, onde não faltaram, a par das habituais instalações destinadas à restauração, barraquinhas de artesanato e merchandising, inúmeros espaços de convívio e lazer (com direito a matrecos, sessões de Guitar Hero na Playstation e um touro mecânico!), e claro, uma vista privilegiada para a marginal do Porto – uma absoluta mais-valia com a qual nenhum outro festival urbano poderá, jamais, competir.
O cartaz promissor, aliado, então, a uma exímia disposição espacial, bem como ao preço dos bilhetes – muito abaixo do praticado nos demais festivais de Verão – levou a que cerca de 18 mil pessoas se deslocassem à foz do Rio Douro, para confirmar as expectativas – elevadas, claro está – única e exclusivamente abatidas, ainda que ligeiramente, pelo intenso frio e vento forte que se fez sentir ao longo de toda a noite (uma noite de Verão, supostamente?!).
Poucos minutos passavam das 22h00, quando os Lamb surgiram, radiantes,no palco. Não tivesse sido a pontualidade uma constante ao longo dos cinco concertos do dia, poder-se-ia arriscar que tamanha precisão horária indicaria, pura e simplesmente, a ânsia da banda em reencontrar os fãs portugueses que, passados cinco anos, ainda mantêm, definitivamente, apreço pelo conjunto britânico. E, se disso dúvidas houvesse, estas viriam a dissipar-se após a entoação - qual coro afinado - do quase hino do conjunto, Gabriel, bem vivo ainda na memória dos presentes.
“Parece que foi ontem que ouvi este tema pela primeira vez, na rádio”, comentava Liliana Pereira, de 25 anos, que confessou, em declarações ao Palco Principal, ter viajado propositadamente de Viana do Castelo – onde reside -, para recordar os temas da banda que “marcou parte da [sua] adolescência”.
Cunharam o resto da actuação a entrega de Lou Rhodes e Andy Barlow, que de tudo faziam para corresponder as demandas do público, saudoso qb.; a sua insistência no contentamento quediziam sentirneste regresso a território luso, que sempre os recebeu “com tanto carinho”; e ainda as interpretações concisas e apuradas de Goreki, Trans Fatty Acid e All in Your Hands, reconhecidas aos primeiros acordes pelos admiradores mais devotos.
As sonoridades trip hop, com rasgos de drum ‘n’ bass e pop deram, rapidamente, lugar ao electro rock dos escoceses Primal Scream – um género musical que parece não ter «desarmado» os presentes, que, na sua maioria, tinham sido aliciados para o festival pelo indie rock dos cabeças de cartaz da noite, os Kaiser Chiefs, que, aos seus olhos, pareciam tardar em chegar.
À não identificação (ou, eventualmente, desconhecimento) do público presente com as sonoridades praticadas pelo conjunto de Bobby Gillespie, juntou-se a má qualidade sonora, que insistiu em marcar presença ao longo de toda a sua performance – uma performance pobre, salva apenas pelos temas Swastica Eyes e Rocks, que se evidenciaram perante uma viagem pela carreira da banda (apesar da incidência de “Screamadelica” (1991), “Give Out But Don’t Give Up”(1994) e “XTRMNTR”(2000)), «derramada» em palco sem grande entusiasmo ou convicção.
Um enorme “KC”, que fazia adivinhar a proximidade da banda de Ricky Wilson do local de actuação, era montado no palco principal do festival por volta da 01h00, gerando, de imediato, o típico burburinho de quem já provou – os Kaiser Chiefs passaram pelos Coliseus ainda no início deste ano, tendo também marcado presença na edição 2008 do Rock in Rio Lisboa -, adorou e, agora, espera ansiosamente por mais e melhor. E foi precisamente «mais e melhor» que os autores de Ruby e Never Miss a Beat trouxeram ao Cabedelo: mais tempo de actuação e melhor prestação em palco, se, como variáveis da «equação», incluirmos energia, simpatia e interacção, e, claro, total devoção aos fãs.
Resultado? Uma actuação arrebatadora, recheada de bom humor e momentos ímpares – recorde-se a sessão de acrobacias levadas a cabo por Wilson -, onde não faltaram, além dos já citados trunfos musicais, os êxitos mais antigos da banda, como I Predicta Riot, Everyday I Love You Less And Less, Oh My God e Modern Way. O público, rendido, agradeceu (euforicamente – diga-se).
O primeiro dia de festividades viria a acabar algumas horas mais tarde, uma vez findos os live sets dos DJs convidados para o after-hours.
Scorpions e Guano Apes encabeçam cartaz de hoje
O festival continua hoje com os Scorpions a liderar o cartaz. A banda de culto alemã deverá subir ao palco principal do evento às 23h30, logo depois de terminar o concerto dos norte-americanos Secondhand Serenade, cujo início está previsto para as 22h00.
Pelas 01h00, actuam os também germânicos, Guano Apes.
Já o palco secundário do festival, que ontem acolheu as bem sucedidas actuações de John is Gone e Sizo, recebe hoje os Cazino e os Fonzie, às 19h00 e às 20h00, respectivamente.
Para este, que é o segundo dia do Marés Vivas, são esperadas cerca de 20 mil pessoas.
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