Organizado pela associação Albardeira em vários espaços de Seiça, o festival de cordofones estreia-se em versão concentrada num único dia com concertos, oficinas, atividades para crianças, um documentário e noite de fado. Em foco estão a guitarra portuguesa, os cavaquinhos, a viola campaniça ou a kora.

Cordofonia nasce em Ourém pela ligação à guitarra e a outros cordofones de André Mendes, programador e responsável pelo festival, mas, sobretudo, pelo facto de Fernando Alvim (1934-2015), “uma das personalidades mais importantes da guitarra de fado”, ter nascido e crescido em Seiça.

“Juntou-se o útil ao agradável”, explicou à agência Lusa André Mendes, acrescentando que este primeiro festival assinado pela Albardeira servirá de homenagem a Fernando Alvim, através da exibição de um documentário que lhe é dedicado.

“Não sei se pessoalmente Fernando Alvim teria uma relação enorme com Seiça, mas, apesar de não ser conhecido no concelho de Ourém, as pessoas de Seiça guardam-no com algum carinho, ao espaço da quinta [onde cresceu] e à própria família de Fernando Alvim”, notou o programador.

O festival apresenta-se “multidisciplinar, superdiverso e com várias formas de olhar para os cordofones”. Ao mesmo tempo que dá a conhecer vários destes instrumentos, a organização quer ligar uma abordagem contemporânea ao registo de festa popular, envolvendo associações locais.

Quanto aos instrumentos de cordas, André Mendes realça a oportunidade de lhes dar palco, numa fase em que a relação dos portugueses “é ótima, especialmente com os cordofones típicos”.

“São cada vez mais utilizados na música moderna, por artistas como B Fachada, Maria Reis, o Raia, O Gajo, etc.”, exemplificou.

“Este festival é só mais uma oportunidade para aprofundarmos essa relação. Esperamos poder vir a trazer novos cordofones e mais diferentes”, antecipou, sobre futuras edições.

O programa tem início às 10h00 de sábado, com oficina de Raia dedicada à viola campaniça potenciada por ‘loops’ e pedais de distorção, em modo concerto comentado na Casa Museu de Seiça.

Depois, pelas 10h30, decorre “Brincar na corda bamba”, proposta de música para crianças com a cantautora Bia Maria.

A partir das 15h00, o gambiano Mbye Ebrima dá um concerto de kora na praça da Igreja de Seiça.

À Casa Museu, o Grupo de Cavaquinhos de Moita Redonda, de Fátima, leva um programa de música tradicional portuguesa às 16:00, antes do artista multidisciplinar Fernando Mota apresentar no chorão de Seiça o “Concerto para uma árvore”, em que explora as possibilidades expressivas e simbólicas dos elementos naturais com cordofones inventados ou abstratos.

Pelas 18h30 há mais música de Raia na sede da Associação Sharing Love, onde o músico alentejano António Bexiga percorre as sonoridades da viola campaniça, nas fronteiras do tradicional e experimental.

O guitarrista de fado Fernando Alvim, que tocou com Carlos Paredes, Amália Rodrigues, Ana Moura, António Zambujo e Fafá de Belém entre outros, é recordado em “Azul Alvim”, documentário idealizado por Margarida Mercês de Mello, a exibir às 19h30 no salão do Grupo Desportivo e Cultural de Seiça.

Outro nome da guitarra em Portugal, Luísa Amaro, dá um concerto nesse mesmo espaço, a partir das 21h30, seguindo-se Fado de Coimbra, com Gil Ferreira, Mário Domingos e Eduardo Neves.

O festival termina com DJ ‘set’ de Pimbáu, que recuperam música pimba perdida em cassetes e CD.

Ao longo do dia está patente por Seiça uma exposição de fotografia de Vera Marmelo, centrada nos cordofones captados pela fotógrafa desde 2004.