Desta feita, quis o fado (e as preces de milhares de fãs, saudosos e calejados) que a «tragédia» não se repetisse e, pelas 21h40 de dia 14, Martin Gore, Andrew Fletcher e «Super-Dave» entravam em palco, adornado com o típico ecrã gigante e com uma gigante bola de espelhos, com toda a genica e robustez que os faz ser apontados como uns dos melhores performers que a indústria musical já conheceu.
Ditava o nome da digressão na qual o espectáculo estava inserido, que o concerto serviria de apresentação aos mais recentes temas do grupo, reunidos no longa duração “Sounds of the Universe”– uma suposição rigorosamente cumprida pelos três magníficos, mas apenas no início das festividades, com In Chains, Wrong e Hole to Feed a desafiarem, de uma rajada só, a ansiedade de um Pavilhão Atlântico sedento dos êxitos que marcaram toda uma, duas ou três gerações.
Fieis, mais às aspirações dos fãs, do que ao nome e propósito da tour que os trouxe a Lisboa, os Depeche Mode não se fizeram rogados e ofereceram, como se de noite de Natal de tratasse, Walkin In My Shoes, Question of Time, Precious, World In My Eyes e Fly on the Windscreen de uma só leva, revisitanto assim alguns dos mais marcantes álbuns da sua carreira, como “Songs of Faith and Devotion” (1993), “Black Celebration” (1986), “Playing the Angel” (2005) e “Violator” (1990).
Após oito músicas, onde a voz – ímpar e irrepreensível (apesar dos recentes problemas nas cordas vocais, que o fizeram cancelar duas datas em Agosto passado) – se aliou, como aliás é seu apanágio, a danças e deambulações exóticas com o microfone, Dave, qual deus do Sol em noite de chuva, ausentava-se para um merecido descanso. Era, então, tempo de Martin Gore brilhar. Sister of Night e Home, dois belíssimos exemplares de “Ultra” (1997), dispensaram a pujança da electrónica e foram entoados, ao ritmo da nostalgia, do romantismo e da introspecção, por um público extasiado, feliz.
Depois da «bonança», viria, curiosamente, a «tempestade» - uma tempestade de sucessos com as míticas It’s No Good, I Feel You e Enjoy the Silence, quais trovões, a incendiar a plateia, imparável, alheada de tudo e de todos, desejosa que aqueles momentos, pelos quais aguardara tantos anos, não mais tivessem fim.
O fim fez-se anunciar, contudo, pouco depois, com a Never Let Me Down Again, do “Music For Masses” (1987), a encerrar uma etapa, retomada minutos depois com o encore da praxe, onde a Behind the Wheel e a incontornável Personal Jesus foram «rainhas e senhoras».
Entre deslumbramento, histeria e algumas (muitas) gotas de suor, comemorou-se a saúde e a vitalidade do trio britânico; questionou-se, uma vez mais, a potencialidade acústica do recinto lisboeta; recordou-se a performance de 2006 que, segundo os fãs mais exigentes, evidenciava um Dave mais vigoroso; e lamentou-se, por fim, a previsibilidade do alinhamento – qual guião, seguido à risca, temperado apenas com novas e desnecessárias roupagens para alguns dos temas do grupo -, o fraco encaixe de “Sounds of the Universe” em palco, e a falta de irreverência de Gahan, que negligenciou, por completo, a interacção verbal com o público.
Confere aqui o alinhamento do concerto:
In Chains
Wrong
Hole to Feed
Walking In My Shoes
Question of Time
Precious
World In My Eyes
Fly on the Windscreen
Sister of Night
Home
Miles Away/The Truth Is
Policy of Truth
It's No Good
In Your Room
I Feel You
Enjoy the Silence
Never Let Me Down Again
One Caress
Stripped
Behind the Wheel
Personal Jesus
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