“Num país encostado a um canto da velha querida Europa, ressoam queixas das almas de um povo: ao mesmo tempo que se relembram sonhos lindos de noites passadas, vão-se reacendendo temores de épocas bárbaras e escravas, de balas que só dão sangue derramado, e que esburacam como toupeiras os campos da nossa esperança. Enfim… do que um homem é capaz", escreve o músico, a propósito do novo álbum, já disponível, e do momento em que surge.

"Cantares de emigração ainda elogiam o trabalho dos artesãos que daqui vão partindo… ‘e todos, todos se vão…’", prossegue, num jogo com o nome das canções que agora reúne. "Uma gaivota que é livre não deveria nunca perder a voz! A grande vila morena não deveria tornar-se menor quando entoada por nós… ’Somos livres, somos livres, não voltaremos atrás’… Estimemos a Liberdade e a Paz”.

Calhaz gravou poemas de Luís de Camões, Natália Correia, José Niza, Rosalía de Castro, Ermelinda Duarte e Manuel da Fonseca, canções que foi recolhendo, tendo como principal objetivo continuar a divulgar “a mensagem dos grandes mestres da canção de Abril, nestes tempos tão conturbados, em que a intolerância parece ser ainda uma ameaça”.

O primeiro volume de “ContraCantos” foi publicado em janeiro de 2023, e incluiu os mesmos cantautores. Na ocasião, em declarações à agência Lusa, o músico de Coimbra justificou a escolha por entender que "a luta é contínua”.

“Como diz o meu amigo João Nuno Silva [autor do blog A Certeza da Música] a luta não continua, a luta é contínua, e creio que é importante passar esta mensagem às novas gerações”, afirmou.

Este segundo volume soma 11 canções, entre elas “Do que um homem é capaz” e “Queixa das almas jovens censuradas”, de José Mário Branco, “A noite passada” e “Elogio do artesão”, de Sérgio Godinho, “Endechas a Bárbara escrava” e “Eu vou ser como a toupeira”, de José Afonso, “Lembra-me um sonho lindo” e “Europa, querida Europa”, de Fausto, “Cantar de Emigração” e “As Balas”, de Adriano Correia de Oliveira, e “Somos LIvres”, de Ermelinda Duarte, e “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, que se unem num voo de "luta contínua".

Miguel Calhaz, músico e compositor, nasceu em 1973 na Sertã, e tem projetos musicais nas áreas do Jazz e das Músicas do Mundo.

Em nome próprio editou os álbuns "Estas Palavras", em 2012, "vozCONTRAbaixo", em 2017, e "Contemporânea Tradição". em 2022. Venceu o Prémio José Afonso por um tema original, no 3.º Festival Cantar Abril, em 2011, o Prémio Adriano Correia de Oliveira, para a melhor recriação, em 2013 e, em 2013 e 2015, o Prémio Ary dos Santos para a melhor letra.

Licenciado em Educação Musical e em Contrabaixo/Jazz, Miguel Calhaz é professor do Curso Profissional de Jazz e da Orquestra Geração, no Conservatório de Música de Coimbra.