Este é, seguramente, um Verão que os fãs nacionais de hard rock não irão esquecer. Se já houve algum com um calendário tão preenchido, foi há muito, muito tempo. Depois de Cheap Trick a abrir as hostes, mesmo em cima do Solstício que marcou a chegada dos meses mais quentes do ano, o Pavilhão do Restelo recebeu, a 1 de Julho, o que de mais parecido com um Festival Hard Rock tivemos por cá.
Confesso que, à primeira vista, a combinação dos dinamarqueses D-A-D com os britânicos FMpode gerar algumas dúvidas... Quem se aventura no hard rock sabe bem que os sub-géneros são muitos e com tantas nuances que mesmo os fãs não conseguem chegar a acordo. O que acontece é que as duas bandas parecem estar em pontas opostas do espectro: de um lado a classe melódica dos FM, a melhor proposta AOR que alguma vez saiu de terras de sua majestade; do outro, a irreverência crítica e desafiadora dos D-A-D, contadores de histórias com ar de vikings e uma postura de neo-punk-cowboys.
Mas amistura parece resultar e acaba por atrair gregos e troianos. O público subiu a encosta do Restelo, sob o olhar desconfiado das famílias que faziam fila à porta do estádio para o Festival Panda, e compareceu em peso no Pavilhão para a noite que a promotora intitulou de “Back to Rock”.
Os FM, que não passavam por cá desde 1992, levaram-nos numa viagem pelo que de melhor fizeram na década de 80. Clássicos como Frozen Heart, Other Side of Midnight, Don’t Stop, Bad Luck ou os estrondosos That Girl e I Belong to the Night foram acompanhados pelo público palavra a palavra, numa recepção calorosa que não deixou de supreender a banda.
Em excelente forma, o quinteto liderado por Steve Overland (dono de uma voz inimitável, uma das melhores do hard rock) passou, também, por alguns temas mais recentes. “Metropolis”, de 2010, é o disco mais recente, a que se seguiuo EP “City Limits”, e a banda tem estado em estúdio a gravar “Desolation Station”, que deverá estar na rua até ao final do ano. O concerto em Lisboa marcou o final da tour europeia, mas o set ligeiramente reduzido, CD novo quase a sair e a recepção extraordinária do público português deixa adivinhar que não se passarão mais duas décadas até ao regresso dos FM.
Dos britânicos para os D-A-D, a atitude do público mudou com tal rapidez, que parecia termos sido transportados para uma sala diferente. O embalar melódico e descontraído vivido minutos antes foi substituído por uma descarga de adrenalina, em crescendo até ao final do concerto. Com os irmãos Binzer a dominar o espaço, os D-A-D guiaram a multidão furiosamente, através de alguns dos momentos mais altos da sua longa discografia.
Ao longo de cerca de hora e meia e dois encores (e o público bem pediu mais), não faltaram Bad Craziness, Jihad, Girl Nation e os indispensáveis Point of View e Sleeping my Day Away. Faltou Laugh ‘n’ a Half, mas a balada teria cortado o ritmo, que teimou em não abrandar, oscilando entre a euforia punk e momentos western, a recordar “ The Good, the Bad and the Evil”.
A última passagem da banda por Portugal foi em 2010, mas ficou, mais uma vez, provado que os D-A-D são uma aposta segura e podem passar por cá as vezes que quiserem, que o público não se farta.
A fechar, uma nota para os Alcoolémia, a banda da margem sul que abriu as hostes de mais um concerto internacional. Com uma legião fiel de fãs, os Alcoolémia fizeram aquilo que sabem fazer bem e o público presente não se fez rogado em temas como Para quê Sonhar.
Para as bandas nacionais, fazer a primeira parte de um concerto internacional não compensa financeiramente e o tempo de actuação é sempre curto, mas é importante, em grande medida, pela oportunidade de mostrar o seu trabalho a um público mais amplo do que o habitual. Por isso, foi com alguma estranheza que os vimos, mais uma vez, ocupar uma parte substancial dos cerca de trinta minutos de palco com covers de outras bandas. Com cerca de duas décadas de carreira, têm, certamente, mais música sua para mostrar.
Liliana Nascimento
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