Os acordes de "Garota de Ipanema", uma das canções mais conhecidas do mundo, com letra de Vinicius e música de Tom Jobim, embalam os visitantes da mostra, realizada no Centro Cultural Recoleta, na capital argentina.

A curadoria do tributo foi feita a quatro mãos, por duas mulheres argentinas: a premiada artista plástica e estilista Renata Schussheim e Marta Rodríguez Santamaría, ex-companheira de Vinicius. "Levámos mais de um ano a pensar num tom festivo para este espetáculo, como ele gostaria", comenta Schussheim, cujas pinturas e desenhos foram expostos na América Latina, Espanha, Itália, França e nos Estados Unidos.

A mostra conta com fotos ampliadas, algumas delas gigantescas, instalações de vídeo e documentários dedicados ao autor de "Insensatez", "A felicidade", "Berimbau" e "Tarde em Itapoã", em parceria com Toquinho, outro dos seus companheiros de trabalho.

Num dos painéis é possível ver o poeta, que foi diplomata do Brasil nos Estados Unidos, na França e no Uruguai, abraçado a "Pérola Negra", alcunha de Edson Arantes do Nascimento, e outros jogadores. "O Pelé veio jogar na Argentina e Vinicius convidou-o para o seu concerto no Teatro Ópera. Toda equipa foi", conta Santamaría, que manteve uma relação de três anos com o artista e levou 70% das imagens para a exposição, todas do seu arquivo pessoal.

O Rio em Buenos Aires

A sala, uma das maiores do país, com 600 m², chama-se Cronopios, evocação às personagens de um romance do célebre escritor argentino Julio Cortázar, que também trocava cartas com Vinicius.

Ao fundo, atrás de um painel, esconde-se um dos momentos vibrantes da exposição. Como num sonho, abre-se, uma grande tela com projeção digital das areias e o barulho do mar da praia de Ipanema, no Rio de Janeiro.

Schussheim e Santamaría posam para fotos como se estivessem no bairro carioca, enquanto que do outro lado se vê outra tela com mais uma personalidade brasileira, Carmen Miranda, a cantar nos seus filmes de Hollywood. "Isso é ter o Rio de Janeiro em Buenos Aires!", entusiasma-se Schussheim.

Na sala ouvem-se ainda composições de bossa nova, género musical que Vinicius ajudou a fundar ao lado de Jobim e João Gilberto. "Vinicius queria saber quem havia musicalizado 'Orfeu da Conceição' (levado ao cinema por Marcel Camus em "Orfeu Negro") e um amigo apresentou-o ao jovem Jobim", lembra Santamaría.

Noutro painel, Vinicius é visto com grandes figuras da literatura chilena, caso dos poetas Gabriela Mistral e Pablo Neruda, ambos vencedores do Nobel da Literatura.

Na última sala da mostra, uma frase de Vinicius simboliza o seu espírito "descontraído, como a exposição", nas palavras de Schussheim. "E a coisa mais divina que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais", diz o poeta.

A exposição "Vinicius… saravá!" está patente no Centro Cultural Recoleta até 16 de fevereiro de 2014.

@AFP