Em declarações à agência Lusa, Rui Vaz disse que este projeto partiu de um repto que lhe foi lançado pela família do compositor Resende Dias que disponibilizou o espólio do autor de peças como “Moda da Amora Negra”, um dos temas que gravou.

Resende Dias não era um desconhecido para Rui Vaz que já o cantara, nomeadamente no seu álbum anterior, de homenagem à cantora Florência.

“Na minha opinião, Florência é a artista que mais cantou Resende Dias”, disse Rui Vaz à Lusa.

Resende Dias é o pseudónimo artístico de António Martins da Silva Dias, nascido no Porto em 1916 e falecido em 1992, autor de “um repertório vasto, mais de mil canções registadas” na Sociedade Portuguesa de Autores, onde se inscreveu em 1935.

Além de Florência, outros cantores têm no seu repertório composições suas, como António Calvário, Natércia Maria, Lenita Gentil, Rosita e Mariza.

Resende Dias “é muito cantado, e deixou uma obra muito vasta e muito popular, melodias muito fáceis, feitas para ficar no ouvido das pessoas, e daí perdurarem até aos dias de hoje”.

Rui Vaz afirmou que não se sentiu condicionado, nem pela família, “desde que respeitasse a sua composição”, nem por anteriores interpretações.

“Fiz o que me apeteceu fazer com as canções e desconstrui o que estava feito e voltei a fazer de novo. As músicas, apesar de intemporais, tinham os arranjos já um bocadinho datados”, disse. Com o produtor Lino Lobão, Rui Vaz decidiu encontrar novos arranjos musicais.

“O que fizemos foi uma atualização dos arranjos, o desafio que lancei ao meu produtor foi, como é que o maestro Resende Dias faria se tivesse disponível toda a tecnologia que temos hoje, como é que ele faria?”

Na preparação do álbum, Rui Vaz ouviu diferentes intérpretes, e evitando “cair na tentação de ir num só caminho, de [se] colar a alguém”.

O álbum é constituído por 20 temas, todos da dupla José Guimarães e Resende Dias, excetuando “Regresso”, uma letra de Maria Almira, musicada por Resende Dias, que foi uma criação de António Calvário.

À Lusa, o cantor realçou “a sensibilidade” que procurou “dar a cada tema, para que nenhum fosse igual ao outro - quando se grava um disco com tantos temas, podemos cair no erro de uma música ficar parecida com outras”.

O projeto musical, desde o “desbravar caminho” entre o espólio do compositor até entrar em estúdio e gravar, decorreu durante uns bons dois anos.

Antes de aceitar o repto para gravar Resende Dias, Rui Vaz projetava fazer um disco “inteiramente de fado” ou um de copla, mas ao gravar o compositor descobriu “uma nova faceta” na sua carreira.

O disco abre com “Uma Casa no País do Sol” e inclui, entre outras canções, “Lenda de Viana”, “S. João Sempre", "Um nada Enche-nos a Vida", “Ladrão do Meu Amor”, “De Rosa ao Peito”, Bom dia Portugal”.

Rui Vaz escolheu as composições que mais gostava e se “identificava” e que “pudessem agradar ao [seu] público, pois é ele que nos sustenta”.

Com 30 anos, Rui Vaz estreou-se em 2009 e este é o seu sexto álbum. Ao longo do percurso já fez teatro, designadamente, com o encenador Filipe la Feria, no musical “Severa” (2019).