
Kalaf e José Pedro Moreira, o realizador de serviço apoiado pela Red Bull Academy, deram as boas vindas aos amigos e família de fãs, na antevisão do que o documentário guarda em si: não, não é uma biografia em película, mas sim a junção de destinos, de aventuras, de influências e emoções vividas durante a procura pela essência e som característico dos Buraka.
A banda é feita do que o mundo tem para dar, porque é feita dele. São os novos navegantes, à procura de novos territórios por caminhos que fogem à rota mais óbiva, de novos produtores, do miúdo de 15 anos que faz beats num subúrbio ao DJ de renome que se inspira em sabores exóticos, com um twist. O seu trabalho é aperfeiçoar o cru e fazer magia!
“Off the Beaten Track” nasce na Amadora e Rui Pité, o Riot da bateria, conta-nos como é viver num melting pot nacional onde “na escola, um rapaz de origem cabo-verdiana ouve ‘Soundgarden’ e uma rapariga branca ouve Funaná”. A cada cena, serve-se uma salva de palmas de acompanhamento, com uma pitada de nostalgia e gritos de apoio q.b..
Angola, Moçambique, Venezuela e Londres são o cenário da procura incessante e dedicada dos membros da banda, que se relacionam com quem produz música com o pouco que tem e são reconhecidos por artistas de renome, muitos deles intimidados pela energia imparável sentida entre o público e a máquina em palco. De Luanda vem o Kuduro, de Caracas – mais propriamente de um dos bairros mais perigosos da América Latina – veio o relacionamento de longa data com o Tuki, e de Moçambique saíram o jovens rapazes W Tofo, que dançaram com Beyonce em “Run The World” e inspiraram o mundo.
Do Clube Mercado até ao dueto com M.I.A, os Buraka Som Sistema dão-se a conhecer e fazem-nos aprender sobre as suas origens, o seu modo de pensar e de viver a música. São o caso individual da cultura artística com uma personalidade mãe, da qual todos os membros são filhos. A mais recente adição foi Blaya, que se lançou ao lobos como bailarina e acabou por ser tornar na mulher-fera que conhecemos ao vivo.
Pelo caminho ficou a saída de Petty, a adição de Fred Ferreira no departamento percussivo, o incêndio inexplicável nos escritório da Enchufada, a 2 de Dezembro de 2012 – o momento desolador, no qual se perdeu todo o fruto de seis anos de trabalho, ao qual se dedicou o silêncio na sala de espetáculos.
Riot conhece familiares pela primeira vez, Kalaf mostra o seu lado britânico, Blaya faz de Chewbacca e disserta sobre o seu dilema com soutiens. Branko faz de barman durante um soundcheck e Conductor leva-nos da casa dos pais até às battles criativas nas ruas lamacentas de África.
Seguiu-se um breve intervalo e a audiência, sedenta de música, arrumava os casacos e agarrava nas t-shirts compradas na loja improvisada à entrada – durante a digressão europeia, Blaya foi quem mais merchandise vendeu – à espera de um convite para descer às cadeiras doutorais, para fazer a festa. Uma sala clássica, não muito apropriada para a comemoração sonora, embora o problema tenha sido sol de pouca dura.
Prático e entusiasmado, o público organizou-se e lançou-se em coreografias transpiradas desde a primeira batida. Os temas previam-se, com algumas apostas entre companheiros de concerto e outras indicações de quem já viveu Buraka ao vivo, vezes sem conta.
Roses Gabor, cantora britânica, juntou-se à noitada para cantar “(We Stay) Up All Night”, as miúdas giras preencheram todos os centímetros livres do palco em “Sound Of Kuduro”, houve tempo para explosões de confettis e banhos de garrafas de água, e a sempre simpática Sara Tavares foi a convidada saída do público em “Voodoo Love”. Clássicos como “Hangover (Ba Ba Ba), “Wawaba”, “Komba”, “Kalemba (Wegue, Wegue) e a estreante “Yah” fizeram as delícias da casa, como um presente de natal antecipado.
O encore fez-se ouvir, após um curto circuito provocado por uma brincadeira entre amigos artistas transformados em miúdos, que na última década viram mais do que um sonho tornar-se realidade.
Uma jornada desde o início da vida como banda até aos momentos e pormenores descodificados, a partir da qual os Buraka Som Sistema prometem manter-se em metamorfose. Da Buraca para o mundo, até que o último beat os pare!
Texto: Sara Fidalgo
Fotografia: Marta Ribeiro
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