O concerto inaugural, protagonizado pelos Best Youth, tardou em começar. Também a sala tardava em encher. Um primeiro indício de que algo estava errado: demasiados saltos altos - um calçado atípico e inimigo das grandes e agitadasnoites rock - entre os espectadores, que entravam lentamente.

Os Best Youth: Catarina Salinas, Ed Gonçalves e Nuno Sarafa. Começaram a tocar para uma sala aindaum pouco vazia, apresentando algumas músicas ainda não editadas, antes de se focarem no EP "Winterlies".

Ed salta entre a guitarra e os órgãoes Korg, e Catarina canta e dança, sensual. As sonoridades abordadasoscilam entre um indie rock dançável e baladas como Hang Out. Além dos singles, que têm merecido bastante atenção por parte das rádios nacionais, houve ainda tempo para uma versão de Don't Worry Baby, dos Beach Boys.

Se a receção do público ao primeiro concerto foi fria, pode dizer-se que as Pega Monstro subiram ao palco perante um glaciar. No entanto, existe, curiosamente,algo nas letras de Júlia e Maria que se adequa a esta solidão, a esta incompreensão.

Concerto tocados em salas com dez pessoas são comuns. Não são comuns, contudo, concertos dados para dez pessoas num espaço onde estão 200. O palco, habitual centro das atenções, era, ali, apenas mais um atrativo, tão importante, aparentemente, como as dezenas de câmaras fotográficas que insistiam em captar momentos em grupo, para serem registados numa qualquer rede social. Foi, por isso, e não por qualquer erro técnicoda banda,um concerto falhado. E é triste ver algo falhar assim.

A inadequação cantada nas duas primeiras músicas, Suggah e Lisboa-Porto,não podia ser maisreal. Apenas o hino ao festival Paredes de Coura obtém alguns aplausos, aos quais a dupla responde com Fetra: "Se isto não é música, então faz tu uma canção. E, se eu desafino, canta lá tu ó meu cabrão". Mensagem recebida, mas com a mesma indiferença do resto do concerto.

Já os Youthless entraram a matar. Após encontrarem a setlist da atuação anterior, decidem repeti-la. E, antes de tocarem as suas músicas, dizem o nome das da banda anterior. Good Hunter ganha o nome de Paredes de Coura, por exemplo.

A bateria ritmada complementa o som do baixo eléctrico. Por vezes,um instrumento tende a saltar fora do compasso. O outro ataca imediatamente, para fustração de quem gostaria de aproveitar a noitepara uns paços de dança. Os trechos ritmados iludem com batidas quase africanas, mas rapidamente se transformam em momentos de caos experimental.

A promessa era de rock. Em palco, foi cumprida. Fora dele, nem por isso.

Texto: Henrique Mourão

Fotografias: Joanica Cardoso