![António Pinho Vargas apresenta hoje a gravação da sua ópera «Outro Fim» em CD](/assets/img/blank.png)
“Tenho 62 anos, não sou propriamente velho, mas também não sou novo e, nos últimos anos, no meio desta crise, [em que] as conclusões da minha tese ‘Música e Poder’ se reafirmam como válidas, considero que a minha tarefa principal, enquanto compositor e criador, é fazer um esforço para que os discos existam”, afirmou Pinho Vargas. “Tive de lutar por este disco, como pela maior parte dos outros todos”, rematou o compositor que, na sua tese, analisou processos sociológicos na base da ausência da música portuguesa no contexto europeu.
A ópera “Outro Fim”, com libreto de José Maria Vieira Mendes, foi estreada em finais de 2008, na Culturgest, em Lisboa, com direção de Cesário Costa, por músicos da Orquestra Sinfónica Portuguesa e um elenco protagonizado por Sónia Alcobaça (soprano) e Luís Rodrigues (barítono), do qual fizeram também parte as meio-sopranos Larissa Savchenko e Madalena Boléo, e o tenor Mário João Alves.
À Lusa o compositor salientou “a excelência do elenco e dos músicos” e lamentou que desde a estreia até hoje não tivesse voltado à cena. “Houve duas possibilidades de voltar ao palco, uma falhou por falta de financiamento, em Montemor-o-Novo, apesar de muito boa vontade do Rui Horta, que gostou muito da ópera, e outra, em Guimarães, porque não havia disponibilidade de tempo para os ensaios”, contou.
O duplo CD, produzido pela Culturgest, e que será distribuído pela Dargil, é apresentado hoje, às 17:30, na sala 2 da Culturgest, por Pinho Vargas e pelo compositor Sérgio de Azevedo, seu colega na Escola Superior de Música de Lisboa.
Pinho Vargas disse à Lusa que “é importante que as peças mais emblemáticas existam em disco, mesmo que estes venham a desaparecer, e passem as gravações a existir em suporte digital”. “Sinto como importante que fique esse documento para não suceder o mesmo que sucede com tanta obras - por exemplo, a ópera 'Trilogia das barcas', de Joly Braga Santos, que foi apresentada três vezes na década de 1960 e da qual não existe nenhuma gravação”, disse. “Este era o destino muito comum, até há muito pouco tempo, à música portuguesa, mas parece que, nos últimos tempos, as coisas melhoraram”, acrescentou.
O CD resulta da gravação da apresentação da ópera em duas récitas realizadas no palco principal da Culturgest, e foi editado pelo próprio Pinho Vargas, com o engenheiro de som José Fortes, que fez a gravação. Esta “é uma peça bem conseguida da minha parte, gosto desta ópera e gostava de a ter voltado a ver encenada, nomeadamente na Casa da Música, no Porto”, disse o compositor.
António Pinho Vargas considerou que, “dadas as atuais circunstâncias, e a crise tem importância nisso, há uma tendência para programar produções mais baratas e produções canónicas, de Verdi e Mozart, que têm o sucesso assegurado, mas antes da crise já se mostravam avessos a programar e fazer circular óperas”.
“Outro Fim” é a quarta ópera que Pinho Vargas compôs, sucedendo a “A Little madness in the Spring” (2006), “Os dias levantados” (1998) e “Édipo – Tragédia de saber” (1996).
Compositor, músico, ensaísta, António Pinho Vargas, de 62 anos, segundo dados disponibilizados no seu portal na Internet, gravou nove discos de jazz como pianista/compositor, incluindo os dois CD duplos “Solo” (2008) e “Solo II” (2009), em piano. Foram já editados vários discos monográficos com algumas das suas obras, como compositor, desde "Monodia - quasi um requiem", de 1994, e de "Versos", em 2001. A ópera "Os Dias Levantados" foi publicada em 2004, seguindo-se "Six Portraits of Pain", em 2008, e "Improvisações", em 2011. Já este ano foi publicado o CD "Step by Step", com obras do compositor pelo agrupamento Drumming, de Miquel Bernat.
Além das quatro óperas, Pinho Vargas compôs duas oratória, nove peças para orquestra, oito obras para ensemble, 18 obras de câmara, sete obras para solistas e música para cinco filmes. Recebeu em 2012 os prémios da Universidade de Coimbra, pela sua contribuição para a música contemporânea portuguesa, e o José Afonso pelo álbum “Solo II”.
@Lusa
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