“Na realidade, só faço 50 anos [de carreira] no próximo ano, pois vim da minha aldeia, S. Francisco da Serra, para Lisboa em finais do ano de 1965, para tocar no restaurante típico A Severa, no Bairro Alto”, disse à Lusa o músico.

A preparar os 50 anos, António Chaínho vai entrar em estúdio e editar, ainda este ano, um novo álbum, que contará com alguns convidados, a exemplo de anteriores como “LisGoa” e “A guitarra e outras mulheres”.

No Fórum Luísa Tódi, em Setúbal, na sexta-feira, às 21:00, além de António Chaínho, sobem ao palco Tiago Silva, na viola, que tem acompanhado com regularidade o guitarrista, Rui Silva, na viola baixo, e, como convidados especiais, o músico Rão Kyao e as cantoras Ana Vieira, Inês Pereira e Marta Dias.

“Setúbal é o meu distrito e, curiosamente, sempre mantive uma relação especial com a cidade e os fadistas, quando vim para Lisboa, das primeiras gravações que fiz com fadistas da cidade, nomeadamente a Odete de Jesus, o António Zeferino, Januário Martins, Anabela Silva e a Maria do Céu Crispim”, recordou.

Depois d’A Severa, onde acompanhou nomes como Lourenço de Oliveira, Alice Maria, Natércia da Conceição e Manuel Fernandes, “senhor de um estilo muito próprio, que cantava admiravelmente no fado menor ‘A Vassourinha’”, António Chaínho foi para Cascais, iniciar a casa O Picadeiro, “onde iam muitos fadistas de Setúbal”.

Desta primeira fase da sua carreira, como disse à Lusa, o músico sente saudades. “Ouvia aqueles nomes na rádio, lá na minha aldeia, e de repente ali estava eu a acompanhá-los, Tony de Matos, a Lucília do Carmo e o filho, o Carlos [do Carmo], Teresa Tarouca, António Mourão, Tristão da Silva, Ada de Castro… Eram todos grandes vedetas, e eu, na véspera, nem dormia pelo nervosismo, sentia um frio no estômago”, confessa.

Em Cascais abriu ainda uma outra casa, o Forte D. Rodrigo, com o fadista Rodrigo, e que contava no seu elenco com nomes como Manuel Fernandes e Ivone Ribeiro.

Em finais da década de 1970, o músico situa a segunda fase da sua carreira, quando começou a preocupar-se com a necessidade de um curso de guitarra portuguesa para novos instrumentistas, que viria a concretizar décadas depois, com a abertura do ensino de guitarra portuguesa no Museu do Fado, em Lisboa, e, em 2005, numa escola em Santiago do Cacém, o seu concelho natal.

“Comecei a concentrar-me mais na composição e reduzi os acompanhamentos, restringindo-me praticamente ao Carlos do Carmo, ao Frei Hermano da Câmara e, mais tarde, a Rão Kyao, com o qual gravei o álbum ‘Fado Bailado’, em 1983”, disse.

A terceira fase “começou há 23/24 anos quando me lancei sozinho, em recitais, e a dedicar-me com mais afinco à composição, convidando algumas vozes, como aconteceu com o álbum ‘A Guitarra e outras mulheres’”.

No palco sadino, como o músico disse à Lusa, irá passar em revista uma carreira de quase meio século, com composições de sua autoria como "Voando sobre o Alentejo".

A carreira de António Chaínho conta com sete álbuns editados em nome próprio e um DVD, “Ao vivo no CCB”, e com a partilha de interpretações com nomes como Fernando Alvim, que foi viola de Carlos Paredes durante mais de 25 anos, Gal Costa, Fafá de Belém, María Dolores Pradera, José Carreras, Adriana Calcanhotto, Saki Kubota, Elba Ramalho, Sonia Shirsat, Remo Fernandes e Nina Miranda, entre outros.

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