O projeto RioLisboa pretende fazer uma ligação entre Lisboa e o Rio de Janeiro e “está cada vez a fazer mais sentido, pois já começa a haver uma ponte, com músicos no Rio de Janeiro a gravarem de modo a que o projeto seja uma realidade”.
Este novo trabalho conta com a participação da fadista Cassandra Cunha, da cantora Luanda Cozetti, que participou no álbum anterior, “Moça Morena”, e do violoncelista Jaques Morelenbaum, entre outros, como Bruno Chaveiro, na guitarra portuguesa.
“O 25 de Abril é uma data que deve ser sempre recordada”, disse Bruno Fonseca à agência Lusa.
Bruno Fonseca realçou a “ligação familiar” aos ideais políticos de Esquerda, e disse à Lusa ter-se questionado se não seria oportunismo publicar o álbum quando se comemora o Cinquentenário da Revolução dos Cravos.
“Sempre fui muito sensível à data, até por razões familiares, mas, sobre este trabalho, não queria que as pessoas sentissem que era um oportunismo e até partilhei com a diretora do Museu do Aljube, Rita Rato, e ela disse-me 'se tu és oportunista vai haver imensa gente que vai ser, e ainda bem, porque não é uma data que deve ser esquecida e deve ser sempre recordada'”.
Referindo-se ao grupo de músicos que juntou neste projeto disse: “Todos nós temos, de alguma forma, uma ligação emocional ou familiar, que nos remete para esta data tão importante para o nosso país”.
Bruno Fonseca (guitarra clássica) assume a direção musical, e do projeto fazem também parte os músicos Carlos Menezes (contrabaixo) e Marcos Alves (percussão, piano acústico e 'fender rhodes'). Como “músicos convidados”, tem André Dias (guitarra portuguesa) Edu Miranda (bandolim), Tiago Machado (piano acústico), Denys Stetsenko (violino), Sandra Martins (violoncelo) e Norton Daiello (baixo).
Para este álbum, Bruno Fonseca “desafiou” vários autores que participaram no anterior disco a escreverem, como Maria do Rosário Pedreira e João Moura.
Maria do Rosário Pedreira escreveu sobre a liberdade da mulher. A canção intitula-se “Às Claras”, com música de Bruno Fonseca, e “fala sobre os namorados poderem namorar em público o que era proibido antes do 25 de Abril”.
Bruno Fonseca é o autor de sete das 12 músicas do alinhamento de "Cantam a Revolução”, assinando ainda a letra e música de outras quatro: “Amanhã“, “Tarde”, “Recordar” e “O Rio Vai Para o Mar”.
Alguns destes temas celebram a Revolução e os seus ideais, disse, outros, como “Amanhã”, “é um interrogação sobre o futuro, face ao que vivermos hoje como a dificuldade de habitação, a inflação”.
Entre os autores convidados consta Pedro Silva Martins, ex-Deolinda, que assina a letra e música de “Para Onde Vais País?”, que “é mais crítica social e factual de tudo que está a aparecer neste momento em Portugal, nomeadamente das pessoas não estarem informadas, mas gostarem de dar ‘bitaites’, no café”.
Bruno Fonseca realçou a maturidade do projeto. “Começa a haver uma ponte entre Lisboa e o Rio de Janeiro, há músicos de lá que já colaboram connosco”, referido que este novo disco reflete isso mesmo, ”pela sonoridade, a linguagem mais consolidada, a seleção dos músicos convidados e a sua maior coesão”, e por terem convidado só duas cantoras.
Sobre a música, Fonseca disse que “se enquadra no conceito de ‘World Music’". A base é entre Portugal e o Brasil, nomeadamente o fado e a bossa nova, os instrumentos e a forma dos músicos tocarem. Mas há "muitas influências sonoras". "Tocamos boleros, mornas, há uma diversidade e todos esses géneros funcionam na ‘World Music’”.
Para Bruno Fonseca, a música é ainda uma forma de intervenção política e, entre outros projetos, referiu A Garota Não. "Há uma série de músicos que estão a utilizar a canção como intervenção, agora se tem resultado como teve no período revolucionário, isso já é discutível, porque há toda uma conjuntura político-económica que por vezes acaba por nos prender”.
“É como se estivéssemos numa suposta democracia, mas acabamos por ter muito menos liberdades, e há muitas coisas preocupantes. E a canção está a voltar a insurgir-se e talvez este CD surja um pouco do olhar para o que se está a passar no contexto atual", disse o músico, ressalvando que não pode fazer uma comparação porque não viveu o tempo antes do 25 de Abril e não há hoje uma polícia política, como existiu a PIDE.
Fonseca considera que “não fazia sentido voltar a cantar o amor e os sentimentos, mas a música podia ser um meio de intervenção social, e o 25 de Abril não deve ser nunca esquecido e devia ficar sempre ativo e as pessoas estarem sempre alerta, [para que] a democracia não seja esquecida e sim regada como se fosse uma flor”.
“Em relação à liberdades, as pessoas julgam que têm, mas muitas vezes estão a ser manipuladas, só que é de uma forma mais subtil. Logo aí, a liberdade que pensamos que temos, de alguma forma ela é-nos retirada”, argumentou o músico que criticou o facto “de a sociedade estar muito assente nos fatores político-económicos e os humanos serem muitas vezes postos de parte.”
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