Viola Davis, vencedora de um Óscar, afirmou que o futuro do cinema de grande orçamento com presença de atrizes negras em Hollywood está em jogo com a estreia do épico “A Mulher Rei”, em que interpreta uma guerreira africana.

Em declarações à France-Presse, Davis disse esta quarta-feira que sente uma pressão intensa e emoções mistas, pois sabe que a sua atuação nesta longa-metragem será julgada de uma forma que os filmes com realizadores e elenco brancos não são.

“Antes de tudo, o filme tem que fazer dinheiro. E sinto-me dividida quanto a isso, porque só temos uma ou duas oportunidades”, disse.

“Se não gerar dinheiro, então isso significa sobretudo que mulheres negras, mulheres negras de pele escura, não podem protagonizar um sucesso mundial de bilheteira?”, questiona em voz alta.

“É isso, ponto. E agora, eles usam dados para isso, porque ‘A Mulher Rei’ fez A, B e C. E é isso que me deixa em conflito”, esclarece.

“Porque simplesmente não é verdade. Não fazemos isso com filmes brancos. Se um filme fracassa, você faz outro filme, e faz outro filme da mesma maneira”, garante.

“A Mulher Rei”, da Sony Pictures, que conta a história das mulheres guerreiras de Dahomey - hoje Benin - no século XIX, é em muitos sentidos um passo no sentido do desconhecido para um grande estúdio de Hollywood.

TRAILER.

Com a realizadora negra Gina Prince-Bythewood e um elenco maioritariamente negro e feminino, a produção vai estrear este fim de semana em mais de três mil salas nos EUA (chega a Portugal a 6 de outubro). O seu orçamento é de aproximadamente 100 milhões de dólares, incluindo a promoção.

Davis, a única mulher afro-americana a vencer um Óscar, um Emmy e um Tony, passou seis anos tentar tirar o filme do papel, com estúdios e produtores reticentes em fazer a aposta.

“Provem”

Davis interpreta a guerreira veterana Nanisca, que treina uma nova geração para defender-se de um reino rival mais forte e dos escravistas europeus.

O exército feminino do reino de Dahomey serviu como inspiração para as guerreiras de elite de "Black Panther" (2018), que arrecadou 1,3 mil milhões de dólares globalmente.

Davis pede ao público amante do cinema que prove que filmes como “A Mulher Rei” podem fazer sucesso sem que façam parte de uma franquia de super-heróis.

“Estamos todos juntos nisso, não é? Sabemos que precisamos de uns aos outros. Sabemos que estamos todos comprometidos com a inclusão e a diversidade”, disse a artista.

“Então, se pode gastar o seu dinheiro para ver ‘Avatar’, se pode gastar o seu dinheiro para ver ‘Titanic’, então também pode gastá-lo para ver ‘A Mulher Rei’”, acrescentou.

“Porque é assim: nem sequer é que se trata só do protagonismo de mulheres negras, a relevância cultural disso. É um filme muito divertido. E se de facto somos iguais, então desafio-vos a provar”, declarou.

“Não nos verão”

Viola Davis e John Boyega

O filme recebeu muitas reações positivas após a sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Toronto.

A Variety descreveu-o como uma “demonstração cativante de poder negro”, com Davis no “seu papel mais feroz até hoje”.

Porém, segundo Davis, as cenas de fortes batalhas despertaram críticas e misoginia entre a comunidade negra.

“Inclusive na comunidade negra há pessoas dizendo ‘Ah, essas mulheres de pele escura, por que elas têm que ser tão masculinas? Por que não podem ser mais bonitas? Por que não pode ser uma comédia romântica?'”, apontou.

“Pois bem, se este filme não fizer dinheiro a 16 de setembro - e eu estou 150% certa de que fará - mas se não fizer, adivinhem: não nos verão mais”, afirmou.

“Essa é a verdade. Queria que fosse diferente.”