"Russians at War" ["Russos na Guerra", em tradução literal] será exibido no Festival de Cinema de Zurique (ZFF) no próximo mês, apesar das duras críticas de Kiev, disse o diretor do evento na quinta-feira.
O polémico documentário provocou indignação desde que foi exibido pela primeira vez no Festival de Cinema de Veneza, no início de setembro, com alguns a chamar-lhe de um filme pró-Kremlin que procura encobrir e justificar o ataque de Moscovo ao seu vizinho.
Na semana passada, a sua exibição no Festival de Toronto (TIFF) foi cancelada após "ameaças à segurança pública". O evento terminou no domingo e houve duas sessões na terça-feira sob fortes medidas de segurança, segundo o presidente executivo do TIFF como um "posicionamento" contra essas ameaças.
A Ucrânia adicionou a cineasta russo-canadiana Anastasia Trofimova, que dirigiu o documentário, a uma lista negra de segurança nacional na segunda-feira, dizendo que espalhava “propaganda russa” sobre a invasão de Moscovo.
O documentário foi colocado na programação do festival suíço, que foi enviado à imprensa na quinta-feira, como um filme que retrata “soldados russos da linha de frente na Ucrânia (lidando) com a fragilidade da democracia”.
O ZFF reconheceu quinta-feira que o filme já “causou ondas” e disse ter recebido “cartas de protesto”.
"Podemos compreender que o filme evoca fortes emoções nos ucranianos, mas manteremos a sua projeção, porque consideramos que 'Russians at War' é um filme anti-guerra", afirmou num boletim informativo.
Tal como o filme alemão de 2022 "A Oeste Nada de Novo", que ganhou quatro Óscares pela sua representação dos horrores da Primeira Guerra Mundial, o ZFF disse que o documentário "mostra como a maioria dos jovens soldados são reduzidos a carne para canhão".
O diretor do ZFF, Christian Jungen, disse aos jornalistas na quinta-feira que era compreensível que “os ucranianos estivessem descontentes”.
Mas insistiu que “os filmes devem incitar o debate”, acrescentando que considera o documentário um “filme anti-guerra”, segundo a agência de notícias Keyston-ATS.
"Propaganda"
Logo esta quinta-feira, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia alertou os organizadores do ZFF que corriam o risco de destruir a reputação do festival ao avançar com a exibição.
“Este é um filme de propaganda que encobre crimes de guerra, não um documentário”, disse Georgiy Tykhyi na rede social X, antigo Twitter.
"Os verdadeiros russos em guerra são invasores, criminosos de guerra e violadores. Escondê-los torna-nos cúmplices", acrescentou.
Antes destes comentários, o próprio Ministério já indicara no X na quarta-feira que estava “indignado” com a decisão do ZFF.
Na semana passada, durante a polémica no Festival de Toronto, Andrii Yermak, chefe do gabinete do presidente ucraniano Volodimir Zelensky, disse que a obra deveria ser "proibida" porque apresenta "o agressor como uma vítima" e "distorce a realidade".
De acordo com o site de Trofimova, ela já fez documentários na Síria, no Iraque e na República Democrática do Congo, que foram transmitidos pela televisão estatal russa RT, que foi alvo de sanções da União Europeia e dos EUA.
Jungen reconheceu que a realizadora "não estava isenta de problemas", sublinhando que o documentário "Russians at War" seria debatido numa mesa redonda durante o festival.
Várias estrelas estarão presentes no ZFF, que decorre de 3 a 13 de outubro, incluindo Kate Winslet, Richard Gere e Jude Law.
Comentários