'Tristeza', 'desilusão' e ainda o desejo de defender e celebrar "Emília Pérez" e a sua primeira nomeação para os Óscares são os estados de espírito de Zoe Saldaña após o escândalo que envolve Karla Sofía Gascón.

A revelação a 30 de janeiro de mensagens antigas nas redes sociais que causaram polémica sobre o Islão, os protestos anti-racismo nos EUA e até a diversidade da 'cerimónia feia' e 'afro-coreana' dos Óscares de 2021 que premiou "Nomadland" deitaram por terra toda a campanha para os Óscares do filme que estava centrada na atriz espanhola de 52 anos, a primeira pessoa abertamente transgénero na corrida numa categoria de interpretação.

Veja aqui a lista completa de nomeados aos Óscares 2025
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O escândalo ofuscou o reconhecimento do filme como uma produção 'virada para o futuro' que simbolizava tolerância, progresso e inovação, que lidera a corrida aos Óscares com 13 nomeações, um recorde para uma produção em língua não inglesa.

"Estou triste. Uma e outra vez, essa é a palavra porque esse é o sentimento que vive no meu peito desde que tudo aconteceu. Também estou desiludida”, disse Zoë Saldaña à revista Variety.

Nomeada para Melhor Atriz Secundária, ela passou para o centro da nova campanha da Netflix para os Óscares que praticamente apagou Karla Sofía Gascón e a defender o legado, acrescentou: "Não posso falar pelas ações de outras pessoas. Tudo o que posso atestar é a minha experiência, e nunca, num milhão de anos, acreditei que estaríamos aqui".

Também em contenção de danos nesta fase decisiva, o realizador Jacques Audiard descreveu as mensagens como 'imperdoáveis' e disse que não falou nem quer falar com a atriz espanhola, que descreveu como estando numa 'abordagem autodestrutiva' que estava a 'prejudicar pessoas que eram tão próximas dela', mas Zoë Saldaña não quis esclarecer se houve algum contacto.

'Sinto que já falei o suficiente sobre isso', disse antes de acrescentar que ainda está a processar o que aconteceu: 'Não é algo que tenhamos de tirar imediatamente uma conclusão'.

'Imperdoável': Jacques Audiard, realizador de "Emília Pérez", distancia-se da atriz Karla Sofía Gascón
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Os pedidos de desculpa e explicações que se seguiram de Karla Sofía Gascón, um breve comunicado no próprio dia através da Netflix e a seguir à revelia do estúdio à revista The Hollywood Reporter e à CNN Español, foram considerados pouco convincentes, incluindo pelo próprio Jacques Audiard: 'Está realmente a fazer-se de vítima. Está a falar de si mesma como vítima, o que é surpreendente. É como se pensasse que as palavras não magoam.'

Na entrevista à CNN Español, a protagonista de "Emília Pérez" disse que era 'apoiada a 200%' por Zoë Saldaña e Selena Gomez, outra atriz do elenco.

Segundo a Variety, a reação após ouvir uma pergunta sobre isso foi fechar os olhos longamente e preferiu reiterar o que dissera numa sessão em Londres no dia a seguir à revelação das mensagens da colega: 'Não apoio qualquer retórica negativa de racismo e intolerância contra qualquer grupo de pessoas. É isso que quero defender.'

Noutro momento, faz questão de notar que a Karla Sofía Gascón que conheceu na rodagem não é a que viu representada nas redes sociais, mas não pode atestar o que as pessoas fazem na sua vida privada.

"Emilia Pérez"

Segundo a imprensa especializada, não há comunicação direta entre a atriz espanhola e a Netflix, que tenta salvar um investimento de mais de 30 milhões de dólares na campanha para o que parecia até há uma semana a sua mais forte possibilidade de finalmente conquistar a estatueta de Melhor Filme (a votação para os prémios decorre entre 11 e 18 de fevereiro).

Como reconheceu Jacques Audiard, o escândalo ocupou completamente reservado a "Emília Pérez" na temporada, mas Zoë Saldaña mantém a esperança de que o legado de "Emília Pérez" seja reconhecido: 'Serei sempre uma pessoa otimista. Não fui criada para ter qualquer julgamento negativo em relação a pessoas de qualquer grupo em qualquer comunidade. Enquanto sou essa pessoa, ainda posso defender um trabalho do qual me posso orgulhar.'

Aquela que agora é o rosto da campanha diz que tem sentido o apoio do interior da indústria e 'ainda me estou a permitir sentir esta alegria porque nos unimos como uma equipa'.

'Mas também somos pessoas responsáveis ​​por tudo o que dizemos e fazemos', acrescentou.

'Podem pensar que é apenas uma declaração que arranjei com a minha equipa, mas no final de contas, quando não posso falar em nome de mais ninguém, só posso falar em nome de mim mesma e do que testemunhei. E isso precisa ser suficiente por enquanto. Ainda estou a processar. Sem dúvida que acho que isto é uma lição. Tudo na vida é uma lição'.

A 97.ª edição dos Óscares está marcada para 2 de março, em Los Angeles, Califórnia, com apresentação de Conan O’Brien.

TRAILER "EMÍLIA PÉREZ".