Os realizadores do cinema de animação estão a invadir os filmes de imagem real. primeiro foi
Brad Bird (
«The Incredibles - Os Super-Heróis»,
«Ratatui») com
«Missão Impossível: Operação Fantasma», depois foi
Andrew Stanton (
«À Procura de Nemo»,
«Wall.E») com
«John Carter», agora é a dupla de
Phil Lord e
Chris Miller (
«Chovem Almôndegas») com
«Agentes Secundários», que adapta ao grande ecrã a série televisiva
«Rua Jump 21», que na viragem para a década de 90 lançou
Johnny Depp no estrelato.

Na versão para cinema,
Channing Tatum e
Jonah Hill interpretam polícias que vão parar à recém-reativada divisão de oficiais (com quartel-general na Rua Jump 21) que se infiltram como alunos nos liceus para desvendarem mistérios relacionados com tráfico de drogas. Como Chris Miller estava na despedida de solteiro de um amigo de liceu, coube a Phil Lord falar com o SAPO sobre o filme, ironizando que o seu colega estava naquele preciso instante «a viver em pleno «A Ressaca 3».

O impacto da série original

«O Chris e eu éramos mesmo grandes fãs da série «Rua Jump 21» quando andávamos na escola. Aliás, era a série que toda a gente «cool» do liceu via, e como eu não era um dos miúdos «cool» mas tentava parecê-lo aos olhos dos outros, também a via para parecer fixe. O Chris tentou conhecer raparigas através da série, meter conversa com elas a dizer «o episódio de ontem foi mesmo porreiro», mas isso geralmente não funcionava».

A opção por um filme de comédia

«Transformar o «Rua Jump 21» numa comédia foi uma decisão muito arriscada. Nós não queríamos fazer uma paródia pura e dura, mas ao mesmo tempo, quando revimos a série, percebemos que havia ali um elemento «camp». Não queríamos levar as coisas tão a sério como na série, mas se fizessemos um filme sério estaríamos a perder aquilo que era divertido na «Rua Jump 21». E havia lá muita comédia, a interacção entre as personagens do Johnny Depp e do
Peter DeLuise tinha imenso humor, até pelo facto deles estarem sempre a colocar-se em situações estranhas e a comentarem essas mesmas situações. Portanto, transformámos o filme numa comédia não só porque achámos que o potencial dos polícias que regressam ao liceu era enorme como também porque era a melhor forma de captar o verdadeiro espírito da série».

Channing Tatum será o novo Brad Pitt?

«Muita gente tem dito isso, mas eu tenho a certeza que o próprio Channing negará a comparação. De qualquer forma, eu acho que ele tem potencial para fazer aquilo que quiser. E não estou a falar por falar, acho mesmo que ele é um actor muito talentoso e com as ambições corretas: ele está menos interessado em ser famoso e mais em participar em grandes filmes e ter boas intepretações. Ele trabalha imenso e é um grande ator não por ser bonito mas pela pura força de vontade e esforço em tentar ser melhor. Além disso ele é mesmo muito boa pessoa, ele parece um herói no ecrã porque é um tipo excepcional fora dele».

O «cameo» de Johnny Depp

«O Johnny Depp é o maior. Ele é uma verdadeira estrela de cinema. Era proibido fumar no set excepto para o Johnny Depp. Mas o trailer dele não cheira a tabaco, não sei que filtros é que ele tem, deviam colocá-lo em todos os hotéis do mundo. Claro que foi muito difícil ter o Johnny Depp no filme, mesmo para uma participação tão curta como a que ele tem aqui, porque ele é muito procurado. Nós escrevemos o papel dele e depois enviámos-lhe o argumento. Mais tarde, vimo-lo numa festa em que estávamos com o Channing Tatum, e bebemos um copo para ganhar coragem para ir falar com ele. O Channing teve medo e deixou-nos sozinhos, mas nós falámos com o Johnny e ele disse que faria o papel desde que a sua personagem tivesse um determinado desfecho e que também participasse o seu colega na série Peter DeLuise. Nós reescrevemos todo o terceiro acto do filme para acomodar isso e o filme ficou melhor. Esse é um grande exemplo do filme ser melhorado pela contribuição de outras pessoas».

O regresso ao liceu

«Hoje em dia as coisas são muito diferentes, como percebem os protagonistas do filme ao voltar ao liceu. Os «nerds» já não são ostracizados. Acho que a cultura está um pouco diferente, que há uma celebração maior dos tipos com óculos, e isso provavelmente tem a ver com o facto da internet ter alterado muito a forma das pessoas socializam. Quando visitámos liceus e perguntámos como era a vida por lá, todos insistiram que já não era tão hierarquizada como há 10 anos, que havia muitas grupos sociais pequenos mas que todos conviviam mais ou menos bem».

A experiência da televisão

«Antes de chegarmos ao cinema, trabalhámos como argumentistas na televisão, em séries como «Foi Assim que Aconteceu», e isso foi uma escola imprescindível. Na tv é preciso lançar um episódio por semana, por isso é preciso escrever depressa e resolver instantaneamente os problemas que surgem, o que é um grande treino para estar no set de rodagem de um filme. No cinema de animação, por outro lado, os problemas surgem mas pode-se ir almoçar e resolvê-los depois. Não há substituto para a experiência de estar no set de uma «sitcom», com o público ao vivo, e ter de criar piadas no momento para substituir as que não funcionam. Qualquer tempo passado numa sala com várias pessoas criativas e divertidas é muito importante, e eu passei oito ou nove anos a fazer isso».

O salto da animação para a imagem real

«Assim como a televisão é um optimo «background» para a comedia, a animação é um optimo «background» para o cinema propriamente dito, porque numa longa-metragem de animação passamos o dia em reuniões a discutir o filme com 500 ótimos profissionais, com quem debatemos os méritos das diferentes escolhas à nossa disposição. É como fazer um filme em «slow motion». Na animação fazemos o filme três ou quatro vezes ao longo de quatro anos. O «Chovem Almôndegas» teve uma primeira versão em que era muito divertida mas não tinha coração, por isso demos cabo do filme inteiro e voltámos a refazê-lo. O resultado é que o filme ficou mau e sem graça nenhuma e então destruímos essa segunda versão e fizemos uma terceira, que foi aquela que estreou e foi um sucesso. Só que não se podem fazer todas estas correcções no cinema de imagem real, não se pode voltar atrás e refilmar o filme todo. Eu não fui à escola de cinema por isso aquilo foi a nossa escola de cinema».

Trabalhar com um co-realizador

«Nós fomos colegas de quarto nos primeiros seis meses em Los Angeles, mas isso terminou rapidamente porque eu sou desarrumado demais. Ele também é desarrumado mas eu sou a única pessoa que o faz parecer arrumado. Basicamente nós concordamos 90% das vezes. O que acaba por acontecer com uma colaboração assim é que o processo de fazer o filme se torna mais aberto. Se houvesse só um realizador, eu podia tomar uma decisão e já estava. Como tenho o Chris, tenho de explicar-lhe porque é que a minha ideia é uma boa ideia e discuti-la com ele. Uma das coisas que aprendemos em animação é a importância da colaboração de grupo, com toda a gente a dar ideias e foi o que nós tivemos naquele «set». Eu quero ter o máximo de opções possíveis na mesa de montagem portanto nós tentámos de tudo na rodagem».


Não perca amanhã a entrevista do SAPO a Jonah Hill e a Channing Tatum

Recorde o impacto da série «Rua Jump 21»