"Top Gun: Maverick" ultrapassou os 200 milhões de dólares de receitas de bilheteira nos EUA na quinta-feira (o sétimo dia de exibição) e este fim de semana deve arrecadar mais 57 milhões.

Trata-se de um triunfo total para Tom Cruise, que durante décadas rejeitou fazer a sequela do filme de 1986 que o lançou como estrela de cinema internacional e voltar a ser o talentoso e rebelde piloto da Marinha Pete "Maverick" Mitchell.

A imprensa norte-americana tem relatado o nível de exigência que a principal estrela e produtor colocou a si e a todos à sua volta para que "Top Gun: Maverick" fosse uma "carta de amor à aviação": obcecado pelo realismo e rejeitando os efeitos especiais, nada foi deixado ao acaso para criar o espetáculo no grande ecrã que tem recolhido elogios praticamente unânimes.

Tom Cruise como o Capitão Pete "Maverick" Mitchell

Numa das entrevistas de promoção, o realizador Joseph Kosinski recordou que mostrou a Cruise as impressionantes imagens de voo dos pilotos que se encontram no YouTube e os dois coincidiram na reação: as sequências aéreas teriam de ter o mais realistas possíveis e ultrapassar o que estava disponível "de graça".

Para isso acontecer e ao contrário do que aconteceu no primeiro filme, os novos atores tinham mesmo de estar dentro dos caças em voos a sério e não num estúdio de Hollywood: foi o próprio Cruise que planeou um regime de treino intensivo durante três meses, pago da sua carteira, para se habituarem aos efeitos no corpo humano da Força G [a aceleração relativa à gravidade da Terra]. Também tiveram de completar o treino subaquático da Marinha antes de terem autorização para entrar num F-18.

"Aprendemos com o primeiro. Ele foi o único em que conseguimos boas imagens; não pudemos usar as dos outros atores porque ele foi o único que não vomitou. Portanto, desta vez, o Tom projetou um programa de voo para todos os atores", recordou o produtor Jerry Bruckheimer.

Claro que nenhum ator esteve mesmo a comandar um caça militar de mais de 67 milhões de dólares (nem sequer podiam tocar no painel de controlo), mas a exigência de realismo colocou todos dentro do cockpit em voos a sério, coordenados com os pilotos da Marinha para replicarem as suas ações.

"Toda a agente achou que ele estava maluco", contou à revista o capitão Brian “Ferg” Ferguson, o consultor da Marinha no filme, que acreditava que o resultado provavelmente teria ficado quase tão bom se tivesse sido feito com efeitos especiais.

A atriz Monica Barbaro ouve as indicações de Tom cruise antes do seu voo

A estrela principal diz que foi transparente sobre as exigências da produção quando estavam a fazer o 'casting' e os atores tiveram de assinar uma declaração a dizer que não tinham medo de voar: "Fui muito claro no início. ‘É assim que vai ser. Não é para todos'. Quero que as pessoas aproveitem a experiência. ‘Se não quiserem envolver, completamente, eu compreendo".

No processo, Miles Teller, Glen Powell, Jay Ellis, Lewis Pullman, Danny Ramirez e Monica Barbaro começaram por aprender a pilotar o monomotor Cessna.

"Depois coloquei-os num avião onde poderiam fazer algumas acrobacias. De seguida, um caça onde poderiam sentir Força G a sério e o que é um assento ejetor. No primeiro dia em que estão nos F-18, eles estão a filmar", explicou Cruise.

OS ATORES DE "TOP GUN: MAVERICK" durante os treinos.

Mas havia mais: "Tivemos que ensinar os atores sobre iluminação, fotografia, edição. Tive que ensiná-los a ligar e desligar as câmaras e sobre os ângulos e lentes das câmaras. Não tínhamos tempo ilimitado naqueles caças. Se eles fossem estar em voo durante 20-30 minutos, tinha de ter a certeza que conseguiríamos o que precisávamos. Portanto, falei sobre como poderíamos filmar tudo praticamente usando um novo sistema de câmara que nos permitiria colocar uma no cockpit (acabámos por descobrir como encaixar seis)".

Meses para rodar as cenas específicas resultaram em cerca de 800 horas de imagem: a produção incluía dias de trabalho de 14 horas de que resultavam apenas 30 segundos de “boas imagens" aproveitáveis para a versão final do filme.

Um processo caro: segundo várias notícias, a Paramount Pictures Studios gastou até 11.374 dólares por hora [mais de 10.500 euros] à Marinha para poder usar os F-18.

Rodagem: o argumentista Christopher McQuarrie, Tom Cruise, Joseph Kosinski e Jerry Bruckheimer

Joseph Kosinski detalhou o processo para se alcançar o realismo e ultrapassar as imagens que estão disponíveis na internet.

"Começávamos todos os dias com um briefing de duas horas com a participação de todos os pilotos e atores. Revíamos cada cena e conversávamos sobre ângulos da câmara, coreografia do caça, iluminação, clima e, o mais importante, segurança. Depois, ensaiava com os atores e os seus pilotos da Marinha numa maquete de madeira do F-18 [chamada 'buck'] durante uma hora antes de entrarem na aeronave a sério. Faziam o seu voo, gravavam as imagens completamente por conta própria, depois revíamos imediatamente após a aterrarem, dávamos as nossas notas e enviávamos outra vez à tarde. Foi uma maneira aborrecida de filmar, mas a única maneira de obter as imagens que queríamos. Tenho que dar aos nossos atores um tremendo crédito por todo o sangue, suor e lágrimas. Foi um trabalho de equipa monumental", explicou.

O resultado está no grande ecrã e não só: em dez dias, "Top Gun:Maverick" será o maior sucesso de bilheteira na carreira de Tom Cruise no seu país, ultrapassando "A Guerra dos Mundos", de 2005 (234,2 milhões, sem contar com a inflação).