Quem pensa que não há portugueses nos grandes estúdios de animação mundial, terá uma surpresa no caso da Aardman Animations, criadores de personagens como Wallace e Gromit e que acaba de estrear em Portugal a longa-metragem
«Os Piratas!». E não falamos em luso-descendentes ou profissionais que emigraram em tenra idade mas sim de animadores que estudaram em Portugal e partiram para o exterior à conquista do sonho de trabalhar para os grandes nomes da animação planetária.

Rita Sampaio é o caso mais recente de sucesso profissional no estúdio britânico, que se seguiu a
Sara Barbas, que
o SAPO entrevistou em 2010 e cuja
apresentação do projeto de longa-metragem noticiou em 2011. Em entrevista ao SAPO, a animadora falou da experiência de trabalhar no novo filme e do percurso que a levou ao estúdio que criou fitas como
«A Fuga das Galinhas» e
«Wallace & Gromit: A Maldição do Coelhomem».

O trabalho em «Os Piratas!»

«Comecei a trabalhar no filme «Os Piratas!» como «modelmaker» em 2010. Passados alguns meses, candidatei-me ao cargo de Animador Assistente e prossegui neste papel até ao final das filmagens, continuando depois nos extras para o DVD com a mesma função».

As tarefas de um animador assistente

«O trabalho desenvolvido por um Animador Assistente é muito variado, desde fazer a pose de marionetas para fotos (cartaz, fotos de publicidade), esculpir variadas peças em plasticina para as marionetas (mãos, sobrancelhas, etc), testar as possibilidades de animação de alguns momentos tecnicamente mais complicados (a saia da Rainha Victoria aquando da sua «transformação», etc), animar personagens secundárias, explosões, etc.

Dentro do possível e de acordo com o plano de filmagem organizado pela produção, para cada sequência são designados alguns animadores que nela se mantêm durante o tempo necessário a esta ser completa. Desta forma é mais fácil manter uma continuidade no estilo e intenções dos personagens. Como Animadora Assistente eu saltitei por todo o projeto: um teto a explodir aqui, uns personagens secundários numa janela ali, um mamute a deslizar noutra sequência…».

O sonho de trabalhar na Aardman...

«Tal como a Sara Barbas, eu também parti à procura do meu cantinho animado em Inglaterra, sendo que comecei por fazer um Masters em Media (Animation). Sou alentejana, de Portalegre e vivi anteriormente em Lisboa, onde trabalhei em animação e cenografia até sentir que precisava de focar as minhas energias na via que queria seguir de uma forma mais empenhada e construtiva. Daí a decisão de emigrar… e com muita sorte a coisa parece ter resultado de alguma forma.

É engraçado, que quando cá cheguei a Bristol [onde estão sediados os estúdios da Aardman] ainda não conhecia a Sara apesar de termos vários amigos em comum. Ela foi uma mão amiga em casa de quem aterrei por três semanas até encontrar alojamento. Rapariga de talento, para além de estar a finalizar o Mestrado em Escrita de Argumento, ela está a desenvolver projetos próprios como argumentista e realizadora, em imagem real (Worlds Apart-em pós-produção) e animação (Final Call – em pré-produção). Ainda vamos ouvir falar muito dela».

Um filme diferente do habitual no estúdio de Wallace e Gromit

«Posso dizer que em termos de atmosfera, o filme «Os Piratas!», em que trabalharam cerca de 320 pessoas dentro da Aardman, é muito diferente daquilo a que estamos habituados por parte do estúdio. Mas em relação à forma como os personagens «atuam» e interagem, o estilo de comédia física e o detalhe na sua performance indicam-nos que este filme é indubitavelmente daquela produtora, sendo estes os elementos essenciais que destacam a Aardman dentro do panorama da animação».

O desafio das três dimensões

«Todos os planos de «Os Piratas!» foram filmados diretamente em 3D, esse elemento não foi acrescentado em pós-produção. Mas a nível técnico não senti que houvesse grande alteração ao processo de trabalho anterior. Claro que estou a falar do ponto de vista do animador… A nível de planificação da ação dentro de cada plano houve um maior cuidado em aproveitar o «espaço» que este elemento proporciona. Isso repercutiu-se na direção de animação, sendo que se tentou utilizar esse «espaço» como mais um dos elementos com que se pode jogar para transmitir a mensagem».