“Restos do Vento”, “Campo de Sangue” e “Revolta” são alguns dos filmes que integram a sétima edição da mostra de cinema português contemporâneo Cine-Atlântico, que decorre em Angra do Heroísmo, nos Açores, entre sexta-feira e domingo.

“É um conjunto de filmes significativo, que tem como característica comum terem sido produzidos entre 2021 e 2022, o que de certo modo obrigou os realizadores a um desafio criativo e invulgar nas equipas de produção, dos autores e dos realizadores”, disse, em declarações à Lusa, o presidente do Cine-Clube da Ilha Terceira, Jorge Paulus Bruno.

Há sete anos que o cine-clube leva à mítica sala da Sociedade Filarmónica de Instrução e Recreio dos Artistas, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, os filmes portugueses mais recentes, que, por norma, não chegariam ao circuito comercial.

A sétima edição tem como título “Histórias para um novo normal” e destaca um “cinema pós-pandemia”, que teve de se adaptar a novos constrangimentos.

“São filmes que foram essencialmente produzidos entre 2021 e 2022, que são representativos, acima de tudo porque produzidos numa altura precisa, sujeita a limitações, e realizados num contexto complicado que foi a saída de uma pandemia, a que entretanto se foram adicionando outras situações, como a guerra na Ucrânia ou a crise dos espetadores nas salas de cinema”, frisou Jorge Paulus Bruno.

"Campo de Sangue"

Com programação de José Vieira Mendes, o Cine-Atlântico arranca na sexta-feira com “Campo de Sangue”, de João Mário Grilo, inspirado no romance de Dulce Maria Cardoso.

No sábado, é exibido o documentário “Um Corpo que Dança - Ballet Gulbenkian 1965-2005”, de Marco Martins, que traça o percurso de uma das maiores companhias de dança portuguesa do século XX.

No mesmo dia, pode ser visto também “Restos do Vento”, de Tiago Guedes. Estreado em Cannes, na seleção oficial do festival de 2022, o filme conta a história de um violento ritual semipagão, numa aldeia rural portuguesa, que correu mal e deixou marcas num grupo de adolescentes.

No domingo, é exibido “Revolta” de Tiago R. Santos, que retrata um jantar de quatro amigos, num cenário de uma crise económica em Portugal causada pela pandemia.

Segue-se “Um Filme em Forma de Assim”, um musical de João Botelho, que presta homenagem ao escritor Alexandre O'Neill.

A mostra encerra com “Salgueiro Maia: o Implicado”, de Sérgio Graciano, drama biográfico de um dos maiores símbolos do 25 de Abril.

Segundo Jorge Paulus Bruno, em sete anos, o Cine-Atlântico conseguiu “cativar e a captar um público cada vez maior” e desmistificar os preconceitos que existiam sobre o cinema português.

“É importante que o cidadão português tenha a perceção de que os filmes realizados em Portugal são filmes que têm qualidade, são filmes que vão a festivais europeus e internacionais e que saem de lá, alguns deles, premiados. Procura-se desde logo contrariar aquela ideia, felizmente já um pouco ultrapassada, de que o cinema português é maçador, intelectual, que ninguém gosta de ver”, salientou.

A mostra surgiu como alternativa a um festival de cinema sobre o mar, as ilhas, as viagens e as aventuras, com competição e prémios, que o Cine-Clube da Ilha Terceira ainda ambiciona organizar, mas tem adiado por falta de meios financeiros.

“Temos a consciência de que esta mostra também não pode desaparecer. Não vamos substituir um projeto que já está consolidado e que tem resultados muito positivos por um outro de maior envergadura”, assegurou Jorge Paulus Bruno.

Para além da exibição dos filmes, haverá também espaço para debate no Cine-Atlântico, com a participação dos realizadores Marco Martins e Tiago R. Santos, do jornalista do Expresso Jorge Leitão Ramos e do responsável pelo Loulé Film Office, Manuel Baptista.

No sábado, antes da primeira sessão, será exibida a curta-metragem “Moço”, de Bernardo Lopes, co-produzida pelo Loulé Film Office, seguindo-se uma reflexão “em torno da ideia de desenvolver o setor do cinema e dos audiovisuais numa região periférica”.

“É uma matéria que nos interessa muito, porque sempre defendemos que os Açores são um sítio excecional para rodagem de filmes”, explicou o presidente do Cine-Clube da Ilha Terceira.