A caminho dos
Óscares 2025
O filme autobiográfico “Better Man”, em que o cantor Robbie Williams aparece representado por um macaco, desmonta a fachada de glória e sucesso trazida pela ascensão meteórica com a sua ex-banda Take That, mostrando o lado sombrio da fama.
“Há a atração e o 'glamour' e um pensamento subconsciente de que a fama vai resolver tudo, que é o que 90% das pessoas pensam no início”, disse Robbie Williams, num evento de promoção do filme da Paramount Pictures em Los Angeles. “Pensam: 'Se eu conseguir todas estas coisas vou ser inteiro e resolvido'. E o que isto faz, na verdade, é provocar uma crise existencial inacreditável”.
Em vez de preencher o vazio emocional que sentia, a fama que atingiu aos 16 anos, como membro mais novo dos Take That, levou Robbie Williams a uma vida de abuso de substâncias, relacionamentos difíceis e discórdia na banda.
É isso que o realizador Michael Gracey mostra em “Better Man”, um musical biográfico diferente do habitual em que a audiência segue a vida de Robbie Williams desde criança. Mostra a relação complicada com o pai, a busca incessante pelo amor e aprovação de estranhos, o abuso de álcool e drogas e a relação falhada com Nicole Appleton, que em 1997 fez sucesso com a banda All Saints.
Tudo isto com Robbie Williams representado não como um humano, mas como um macaco.
Conseguida através de notáveis efeitos visuais, a opção refere-se a algo que o cantor disse muitas vezes sobre si mesmo: descreveu-se como um macaco que entretém as audiências. “Adorei a ideia do macaco”, referiu. “Estou imensamente orgulhoso e agradecido pela oportunidade”.
Esta versão grata e centrada de Robbie Williams é muito diferente daquela que a audiência vê em “Better Man”, num argumento onde o cantor não foge de momentos controversos e vulneráveis. É mostrado o desmoronamento da relação com Nicole Appleton, que ficou grávida dele mas teve de abortar por pressão dos executivos da indústria da música.
“É para mim a parte mais difícil do filme, porque todos os outros me fizeram algo, mas com a Nick, o vilão fui eu”, admitiu o cantor. “Ela teve a pior versão de mim”.
VEJA O TRAILER LEGENDADO.
Com a história centrada nos anos 1990, algumas figuras conhecidas da 'brit pop', como Liam Gallagher (Oasis) e Gary Barlow (vocalista dos Take That), não aparecem favorecidas na história.
“Adoro o Gaz [Gary Barlow], a nossa relação foi consertada. Mas no filme tenho de falar e pensar como falava e pensava aos 17, 18 anos, e não era amável”, disse Williams. “Quando Gaz recebeu o argumento, disse-me que sai pior que o Darth Vader no primeiro 'Star Wars', o que me fez rir”.
Um dos aspetos que Williams salientou foi que, naquela altura – anos noventa e pico da fama – não havia abertura para falar de saúde mental e depressão.
“Estamos apenas a começar a entender doenças mentais e o que a fama faz às pessoas”, referiu. “Também começamos a ter empatia e compaixão pelas pessoas a quem isto está a acontecer. É algo novo. Se tivéssemos esta conversa nos anos 90 e início de 2000, eu seria atacado por sugerir que tomava antidepressivos”, continuou. “Como é que eu me atreveria a estar triste quando tinha tudo?”
O cantor, agora com 50 anos, dá crédito à mulher Ayda Field e aos quatro filhos por ter conseguido sair do buraco, reconhecendo que outras celebridades que atingem a fama na juventude tiveram menos sorte.
“A minha história não é única. Ninguém que experimenta uma grande dose de fama e omnipresença sai do outro lado a dizer que continua a ser um indivíduo equilibrado”, afirmou. “Há algo que acontece; o mundo curva-se na nossa direção e não conseguimos escapá-lo”.
Ayda Field, com quem se casou em Los Angeles em 2010, permitiu-lhe apreciar a fama pelo que devia ter sido – o aplauso, o entusiasmo, tornar-se no homem melhor a que o título do filme alude.
“Todos queremos ser vistos, ouvidos e amados”, afirmou Williams. “E todos queremos que coisas boas nos aconteçam. Estou muito melhor nessa escala. Vim de um défice de quebra e vulnerabilidade tão severo que na maioria dos dias era impossível viver na minha pele”, admitiu.
“Ainda preciso dramaticamente de ser amado e ainda sou dramaticamente sensível. Mas não sou tão frágil como já fui”.
“Better Man” estreia-se no dia de Natal nos cinemas norte-americanos e chega aos cinemas portugueses a 9 de janeiro.
Está nomeado para um prémio da Associação dos Críticos, Melhores Efeitos Visuais, e para o Globo de Ouro de Melhor Canção Original, por “Forbidden Road”.
A canção, que estava entre as 15 finalistas para uma nomeação aos Óscares anunciadas há uma semana, foi entretanto retirada da lista, que já só apresenta 14 candidatas às cinco nomeações.
Uma carta do comité de música da Academia, da passada sexta-feira, citada pela revista Rolling Stone, explicava que “Forbidden Road” fora retirada da lista de candidatos à nomeação de melhor canção original, por “incorporar material de uma canção existente não escrita para este filme".
A decisão foi tomada depois de uma análise à canção ter identificado material de "I got a name", composta por Charles Fox e Norman Gimbel para o filme de 1973 “The last american hero”, de Lamont Johnson, com Jeff Bridges, acrescentava a revista norte-americana. Charles Fox faz parte do comité de música da Academia.
Nem Robbie Williams nem os seus representantes comentaram a situação, notou o britânico New Musical Express.
Nos Óscares, uma canção tem de ser completamente original, escrita de propósito para um filme que cumpra os critérios de nomeação.
Comentários