
Os realizadores palestinianos Arab e Tarzan Nasser, que estrearam esta semana em Cannes o filme “Era uma vez em Gaza”, aproveitaram a presença no festival francês para lembrar que “os palestinianos nunca foram vistos como seres humanos”.
“Era uma vez em Gaza”, selecionado pelo festival de Cannes para a secção “Un Certain Regard”, é a terceira longa-metragem dos irmãos Arab Nasser e Tarzan Nasser, e conta com coprodução minoritária de Portugal através da produtora Ukbar Filmes, que já tinha participado no filme anterior de ambos, “Gaza, meu amor”.
Os dois realizadores nasceram em Gaza em 1988, mas saíram do território em 2011, tendo passado a filmar na Jordânia. Em 2013 apresentaram a curta-metragem “Condom Lead” em Cannes e, em 2020, “Gaza, meu amor” no festival de Veneza (Itália).
Num encontro com os media em Cannes, os realizadores agradeceram a exposição mediática que é dada ao cinema deles, mas alertaram para a forma como a comunidade internacional e a indústria cultural estão a olhar o drama humano na Palestina.
“Estão a destruir tudo e o mundo está a ver. A história da Palestina é muito antiga e o mundo sempre esteve a ver, porque nem sequer olha para os palestinianos como seres humanos. (…) O problema é o seguinte: Israel pode defender-se, mas os palestinianos nunca foram vistos como seres humanos”, lamentou Arab Nasser, citado pela agência Efe.
Criticando os subterfúgios de linguagem para falar do que se passa em Gaza, Arab Nasser disse ainda que ninguém exige claramente que se ponha “fim ao genocídio”.
“Era uma vez em Gaza” é descrito pela crítica especializada como uma comédia negra e um filme de ação, sobre corrupção e propaganda na Faixa de Gaza entre os anos 2007 e 2010.
Em entrevista à publicação Variety, os dois irmãos reconheceram que falar sobre Gaza é sempre a dizer “’era uma vez’, porque Gaza praticamente já não está lá”.
“Mas a escolha do título ocorreu antes do genocídio que está agora a acontecer”, disseram, a propósito do filme cuja rodagem terminou antes de outubro de 2023, ou seja antes dos atentados do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel.
“Era uma vez em Gaza”, que tem coprodução também de França, Alemanha e Palestina, contou com apoio financeiro do Instituto do Cinema e do Audiovisual e da RTP. Segundo a produtora Ukbar Filmes, os dois realizadores finalizaram em Portugal o trabalho de montagem e mistura de som, efeitos especiais e correção de cor.
Entre outros filmes, além de "Era uma vez em Gaza", na secção "Un Certain Regard" está também o filme “O riso e a faca”, do realizador português Pedro Pinho.
A 78.ª edição do Festival de Cinema de Cannes (França) termina no sábado.
A ofensiva israelita em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, matou cerca de 53.500 pessoas, a maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, que controla o enclave.
O ataque do Hamas causou a morte de 1.218 pessoas do lado israelita, na maioria civis, segundo uma contagem da Agência France-Presse baseada em dados oficiais.
Das 251 pessoas raptadas nesse dia, 57 ainda se encontram na Faixa de Gaza, 34 das quais foram declaradas mortas pelo Exército.
A população da Faixa de Gaza aguardava hoje desesperadamente a distribuição de ajuda humanitária, à medida que aumenta a pressão internacional sobre Israel, acusado de só permitir a entrada no território palestiniano de uma ínfima parte do apoio necessário.
Após mais de dois meses e meio de bloqueio total imposto à Faixa de Gaza, Israel anunciou que tinha autorizado a passagem de uma centena de camiões da ONU na segunda e terça-feira.
A autorização foi descrita pela Organização das Nações Unidas como "uma gota no oceano" e 22 países exigiram a retoma "imediata da ajuda total".
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