Foi um dos maiores símbolos do Cinema Novo português da década de 60 graças a filmes como
«Belarmino» (1964), mas também um cineasta que continuou a marcar o seu tempo, por via de fitas como
«O Delfim» (2002) ou
«Lá Fora» (2004).
Fernando Lopes faleceu hoje, aos 76 anos, em Lisboa, no Hospital da Cruz Vermelha, disse à Lusa a diretora da Cinemateca Portuguesa, Maria João Seixas, também sua mulher.

Nascido a 28 de dezembro de 1935 no concelho de Alvaiázere, Lopes começou a trabalhar na RTP logo em 1957, no ano em que arrancaram as emissões regulares da televisão pública. Em 1959, consegue uma bolsa do Fundo do Cinema Nacional, que lhe permite estudar Realização de Cinema na London Film School.

Com futuros cineastas como
António-Pedro Vasconcelos,
Paulo Rocha ou
João César Monteiro, Fernando Lopes integrou uma geração que nos anos 60 tentou e conseguiu operar uma mudança nos rumos do cinema português. Fortemente cinéfilo e bastante influenciado pela renovação da linguagem cinematográfica saída da Nouvelle Vague francesa, o grupo de cineastas, agregado em redor do produtor António da Cunha Telles, assinou então uma série de filmes que fizeram história e ganharam projeção internacional.

Após realizar vários documentários, atividade em que continuaria muito ativo nas décadas seguintes, Lopes contribuiu com dois dos mais significantes filmes dessa época, que se tornaram dois dos mais elogiados filmes da história do cinema português: «Belarmino», em 1964, crónica documental do pugilista do mesmo nome, e
«Uma Abelha na Chuva», em 1971, adaptação do romance de Carlos de Oliveira.

Entre 1978 e 1980, continua muito ativo na RTP, sendo um dos co-fundadores da RTP2 enquanto canal com emissões próprias e individualizadas da RTP1. Entretanto, em 1978, realiza em registo semi-documental e autobiográfico
«Nós por Cá Todos Bem», sobre as atribulações de uma equipa de filmagem na aldeia de Várzea dos Amarelos, e em 1984 muda de tonalidade e assina o divertido e tresloucado
«Crónica dos Bons Malandros», baseado no muito popular romance de Mário Zambujal, que consegue os favores do público mas, pela primeira vez, a rejeição da crítica.

Seguiu-se em 1987 a abordagem do tema da emigração no filme
«Matar Saudades» e em 1993 a adaptação do livro de Antonio Tabucchi
«O Fio do Horizonte», consolidando a tendência assumida por Lopes de adaptar livros de escritores que ele preza a nível pessoal e artístico.

Após quase uma década de afastamento da longa-metragem de ficção, o realizador regressa em grande em 2002 com um filme elogiado por público e crítica,
«O Delfim», adaptação do romance de José Cardoso Pires, protagonizado por Alexandra lencastre e Rogério Samora. A sua carreira volta então a tomar balanço e a sua produção torna-se regular a partir daí, primeiro com dois filmes com argumento de João Lopes,
«Lá Fora» (2004) e
«98 Octanas» (2006), seguindo-se o semi-autobiográfico
«Os Sorrisos do Destino» (2009) e o seu derradeiro filme,
«Em Câmara Lenta», que estreou a 8 de março último.

Além dos seus méritos de cineasta, Fernando Lopes era também uma das figuras mais carismáticas do meio da cultura nacional, conhecido por ser um conversador sem rival, com um lado convivial que congregou igualmente a admiração de várias gerações de cinéfilos. Nesse sentido, a sua prestação como ator no filme
«The Lovebirds», de
Bruno de Almeida, é porventura a captação mais que perfeita da sua personalidade no cinema e fora dele.

Personalidades da cultura elogiam a carreira de Fernando Lopes