Os fundadores dos Golden Raspberry Awards, os prémios que parodiam os Óscares para distinguir os piores no cinema, popularmente conhecidos por Razzies, estão arrependidos da nomeação de Shelley Duvall há 41 anos.

A escolha para Pior Atriz com “Shining”, de Stanley Kubrick (1980), aconteceu na primeira cerimónia dos prémios, em março de 1981.

"Conhecendo a história de fundo e a forma como o Stanley Kubrick a esmagou, retiraria a nomeação", reconheceu Maureen Murphy, co fundadora dos Razzies com John J.B. Wilson, numa entrevista à revista Vulture, referindo-se aos relatos sobre o comportamento exigente do realizador durante a rodagem do agora clássico do terror, que exigia aos atores a repetição da mesma cena dezenas de vezes.

Shelley Duvall viria a perder o prémio para Brooke Shields, "distinguida" com "A Lagoa Azul".

A primeira vez que os prémios foram organizados contrasta com o processo atual dos Razzies, votados pela internet por 1128 membros da organização distribuídos por 49 Estados americanos e mais de 20 países estrangeiros, entre cinéfilos, críticos de cinema e pessoas ligadas à indústria cinematográfica americana.

"Na sua grande maioria, os membros que votaram no primeiro ano foram pessoas com quem Maureen e eu trabalhávamos numa empresa que fazia trailers de filmes", salientou John J.B. Wilson.

"Shining" não foi nomeado para Pior Filme, mas conseguiu entrar na corrida numa segunda categoria, a de Pior Realização. E essa é uma decisão que os fundadores dos Razzies continuam a defender.

"Um grupo de nós que tinha lido o livro de Stephen King foi ver 'Shining' na noite em que estreou e não gostámos do que o Kubrick tinha feito ao romance [que] era visualmente muito mais surpreendente, muito mais aterrorizante, muito mais cativante, e não conseguíamos compreender a razão para se comprar um livro com todo aquele potencial visual e depois [não se usar o que lá estava]. Se se vai dizer que é o 'Shining', então é preciso ter lá algumas coisas importantes que não estavam", acrescentou Wilson.

"E pelo que percebi, foi o Kubrick que decidiu o que cortaram do livro. Portanto não me sinto mal pelo Stanley Kubrick", acrescentou sobre essa nomeação.

"Exatamente. Acho que esse tipo é sobrevalorizado. Ele fez um bom filme e só isso", concordou Maureen Murphy.

O próprio Stephen King, que nunca foi contactado por Kubrick durante a produção, também não gostou da adaptação, comparando-a a um carro novinho em folha... sem motor.