Lukas Dhont fez a sua estreia na realização com apenas 26 anos: incluído na secção A Certain Regard da última edição do Festival de Cannes, "Girl" rendeu ao jovem cineasta a Camera D´Or, dedicado ao Melhor Realizador Estreante. Mais importante que isso, foi uma das obras de maior impacto entre as audiências do evento.
Mais novo ainda era ele quando concebeu este projeto: aos 18 anos e ainda a esconder a sua própria homossexualidade, a notícia de um rapaz belga de 15 anos que escolheu não só mudar de sexo como ainda ser uma bailarina deixou-o fascinado. Depois de decidir que faria um filme sobre o tema, entrou em contacto com Nora, a rapariga, que acabou por colaborar na conceção de “Girl”.
Diferente de muitos outros trabalhos, o conflito aqui não está relacionado com a sobrevivência do protagonista num meio social hostil: gozando de uma aceitação geral na família, na escola e na instituição onde treina para ser bailarina, o seu grande drama é desafiar os limites da sua mente e do seu próprio corpo.
Esse foi o propósito explícito do cineasta, que disse ao Screen Daily: “a maioria das histórias de transgéneros que existem preocupam-se com a reação do mundo exterior e eu queria focar os sentimentos interiores dela. Queria que as pessoas entendessem o que é nascer num corpo que não é o seu”.
Para ele o rapaz é um herói e este é o seu “filme de super-heróis”.
No total, 500 pessoas foram testadas para o papel principal, pois daí dependia o sucesso de uma proposta toda ela sustentada no protagonista. Neste processo nem sequer havia a certeza se o melhor era um homem, uma mulher ou um transgénero – e onde as dificuldades aumentaram porque o ator teria de saber dançar e o dançarino saber interpretar. Victor Polster, um rapaz que tinha 15 anos e necessitou de autorização dos pais para aceitar o papel, acabou por ser escolhido por conseguir fazer ambos.
De resto, basta dizer que o enredo evolui no sentido de um resultado final que não deixa ninguém indiferente.
"Girl" é exibido domingo, 16 de setembro, às 22h00.
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