Figuras destacadas do mundo das artes e da política prestaram esta segunda-feira na Polónia uma emotiva homenagem ao realizador Andrzej Wajda, que faleceu na véspera aos 90 anos.
'Todos somos Wajda. Víamos a Polónia e a nós mesmos através dele. E a entendíamos melhor. A partir de agora, será mais difícil', lamentou no Twitter Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro-ministro polaco.
Nos seus filmes, Wajda explicou aos polacos e ao mundo inteiro a sua história, dos grandes momentos ao períodos mais obscuros.
"Um grande personagem, um grande polaco, um grande patriota e um grande cineasta passaram à eternidade", lamentou Lech Walesa, o líder histórico do sindicato Solidariedade e Prémio Nobel da Paz.
'Voltaremos a ver-nos; já fiz as minhas malas', acrescentou Walesa a vários jornalista, sem acrescentar mais detalhes.
A escola de cinema de Lodz, no centro do país, de onde saíram todos os grandes nomes da Sétima Arte na Polónia, incluindo Wajda, colocou nesta segunda-feira bandeiras negras na sua entrada.
'Foi um homem corajoso, de uma grande autoridade, um mestre para os jovens', assinalou o ator Daniel Olbrychski, que entrou em 13 filmes de Wajda.
Resumindo o sentimento geral, um crítico de cinema, Tomasz Raczek, escreveu no Twitter: 'O luto no cinema polaco será longo'.
Sempre ativo
Nos últimos meses, os amigos constataram que a sua saúde estava a deteriorar-se, mas, mesmo assim, Wajda mantinha-se muito ativo, apoiado pela sua esposa, Krystyna Zashwatowicz, atriz, realizadora e cenógrafa. Morreu no domingo por causa de uma insuficiência pulmonar.
O diretor, que deixa uma longa série de filmes célebres, inspirados na turbulenta história de seu país, estava internado há vários dias e em coma induzido devido a problemas pulmonares.
Vencedor do Óscar em 2000 pela carreira, voltou-se para o cinema após fracassar no plano original de seguir a carreira militar.
A obra de Wajda inclui clássicos como "O Homem de Mármore" (1977), uma crítica à Polónia comunista, seguida quatro anos depois por "O Homem de Ferro", que conta, quase em tempo real, a história do Solidariedade, o primeiro sindicato independente do bloco comunista.
A Palma de Ouro em Cannes por "O Homem de Ferro" também salvou Wajda da prisão em 1981, quando o regime do general Wojciech Jaruzelski lançou uma ofensiva contra o Solidariedade.
Porém, não lhe restava outra saída do que continuar a filmar no exterior do país. Neste período, lançou "Danton" (1983), "Um Amor na Alemanha" (1983) e "Os Possessos" (1988).
Após a queda do comunismo, em 1989, Wajda retornou à história polaca com diferentes filmes, como "Katyn" (nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2008) e que conta a história do seu pai, Jakub Wajda, um dos 22.500 oficiais polacos massacrados em 1940 pelos ocupantes soviéticos.
Amante do teatro, Wajda também dirigiu dezenas de peças, algumas no exterior, como na América do Sul e Japão. Aliás, fascinado pela cultura japonesa, criou em 1994 o Centro Manggha de Arte e Tecnologia Japonesa, na cidade histórica polaco de Cracóvia.
Em 2002, ele criou sua própria escola de realização e argumentos.
O seu filme póstumo e ainda por estrear, "Powidoki" [Afterimage], que conta os últimos anos de vida do pintor vanguardista Wladislaw Strzeminski e a sua luta contra o estalinismo, foi concluído neste ano e será o candidato aos Óscares pela Polónia.
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