Entre as várias experiências feitas na cerimónia dos Óscares a 25 de abril, a maior e a que se revelou mais controversa terá sido a de terminar com o anúncio do Melhor Ator e não Melhor Filme.

No rescaldo, tudo indicava que a Academia e os produtores Steven Soderbergh, Stacey Sher e Jesse Collins (os dois primeiros foram, respetivamente, o realizador e produtora do filme "Contágio") estavam certamente a contar que o falecido Chadwick Boseman ganhasse por "Ma Rainey: A Mãe do Blues" e a sua viúva subisse ao palco para fazer mais um discurso emotivo, como aconteceu noutras cerimónias.

Só que o "tiro saiu pela culatra" quando Joaquin Phoenix anunciou que a estatueta ia para Anthony Hopkins por "O Pai".

O final acabou por ser anticlimático e pouco "cinematográfico": não houve discurso de agradecimento e a cerimónia acabou a correr e sem o seu habitual ponto alto de entusiasmo porque o ator de 83 anos estava num hotel no País de Gales a dormir depois de não o deixarem participar por zoom.

Pouco mais de uma semana depois da grande noite de cinema, Soderbergh explicou a decisão de não terminar com o Óscar de Melhor Filme.

“Falámos sobre isso em janeiro. É nossa convicção - que acho que não é infundada - que os discursos dos atores têm tendência para ser mais dramáticos do que os dos produtores. E pensámos que seria divertido misturar as coisas, especialmente se as pessoas não soubessem que isso ia acontecer. Portanto, isso fez parte do plano", revelou ao jornal Los Angeles Times.

Jesse Collins, Stacey Sher e o realizador Steven Soderbergh

Tomada a decisão de não terminar com Melhor Filme, o produtor e realizador diz que Melhor Ator se tornou inevitável quando as nomeações a 15 de março confirmaram a possibilidade de Chadwick Boseman ganhar a título póstumo.

"A nossa impressão era que se ele vencesse e a viúva falasse em seu nome, não haveria forma de continuar depois disso", reconheceu.

Questionado se acharam que ele ia ganhar, a resposta é subtil: "Não foi termos partido desse princípio, mas a necessidade de levar em conta que poderia acontecer. Aquilo teria sido um momento tão devastador que voltar a seguir teria sido simplesmente impossível."

A decisão de evitar um final anticlimático acabou por falhar com o anúncio de Anthony Hopkins, mas Soderbergh não se mostra arrependido de não terem permitido a utilização do zoom.

Em relação às reações negativas pela falta de imagens e montagens dos filmes, recorda-se o contexto: "é preciso perceber que esta cerimónia foi encarada por nós e pela Academia como uma oportunidade de experimentar coisas realmente diferentes. E o entendimento sempre foi [de que] haverá algumas coisas que funcionam e algumas coisas que não funcionam, coisas que as pessoas gostam e não gostam. É essa a intenção".

"O objetivo foi sempre fazer algo diferente e deixar a Academia analisar a resposta e decidir o que fazer ao seguir em frente. Mas devo dizer que todos - a Academia, o canal [ABC], todos - se mostraram muito favoráveis a todas as ações criativas que tomámos", acrescentou.

Sobre o que gostaria que futuros produtores aproveitassem do que foi feito este ano, Soderbergh destacou a apresentação das histórias sobre o percurso dos nomeados.

"Acho que isso faz a indústria assentar em alguma forma de realidade e deixa claro às pessoas que a maioria dos que trabalham não vem de Los Angeles e Nova Iorque, não tem ligações com a indústria do entretenimento e que não existe uma barreira entre os atores e a equipa técnica, que estão todos a trabalhar juntos. E que a experiência de fazer um filme não está num plano à parte, como penso que algumas pessoas acreditam", concluiu.