A morte do encenador Jorge Silva Melo, na segunda-feira, aos 73 anos, representa a perda de "uma referência absoluta", lamentou hoje o diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa.

"Perdemos uma referência absoluta, além mesmo do teatro, além mesmo do cinema, porque foi uma referência moral, para não dizer 'política', no único sentido – precisamente o de uma 'moral' - em que creio que a palavra mais resistiu para toda uma geração", escreveu José Manuel Costa, na página oficial da Cinemateca.

Jorge Silva Melo "fez tudo o que se pode fazer no teatro, mas fez também grande cinema. (...) Acreditem antes que foi mais um daqueles para quem o país foi injustamente pequeno, mais um dos que, insistindo em trabalhar aqui, não cabia nos limites deste 'aqui'", escreveu o diretor da Cinemateca.

A Cinemateca Portuguesa tinha prevista a mais completa retrospetiva do cinema de Jorge Silva Melo, para março de 2020, mas o ciclo foi interrompido por causa da pandemia da COVID-19.

A retrospetiva, que a Cinemateca pretende ainda retomar, continha filmes como "Ainda não acabámos, como se fosse uma carta" (2016), espécie de autorretrato filmado de Silva Melo, "Ninguém duas vezes" (1984), com Manuela de Freitas, Luís Miguel Cintra e José Mário Branco, "Coitado do Jorge" (1992) e "António, um rapaz de Lisboa" (2000), a partir de uma peça homónima.

Do cinema de Jorge Silva Melo, escreve José Manuel Costa: "'Passagem ou a meio caminho' é um filme perfeito, e porventura o único que falou realmente, e como era preciso falar, dessa geração. 'Agosto' é um filme perfeito, que mostrou, a quem pudesse ter dúvidas, o muito mais que o seu autor poderia ter feito no espaço do cinema europeu. Está lá tudo, no 'Passagem', incluindo as mil ideias que podemos ler na expressão 'a meio caminho': a ideia da imersão no tempo que corre, a ideia de uma urgência que, acomodaticiamente, vamos deixando cair [...], a capacidade para usar o cinema naquilo em que é mais insubstituível, ou insuperável, que é a de registar a própria sensação da vida que passa".

Ator, encenador, dramaturgo, realizador de cinema, escritor, guionista, tradutor, cronista, crítico, fundador e diretor da companhia de teatro Artistas Unidos, Jorge Silva Melo morreu na noite de segunda-feira, em Lisboa, de doença oncológica, aos 73 anos.

A companhia Artistas Unidos revelou que a última peça encenada por Jorge Silva Melo, "Vida de artistas", vai estrear-se no próximo dia 23, no Teatro S. Luiz, em Lisboa.

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