«Tive muito cuidado para não fazer algo que soasse muito político e que o público achasse desgastante», afirma o realizador do filme, o sul-africano
Neill Blomkamp, de 29 anos. «Mas eu sabia que queria captar a essência da África do Sul e a essência da segregação e do racismo sem disfarces, porque foi nesse ambiente que eu cresci», contou o cineasta na apresentação do filme à imprensa em Beverly Hills.
Com um orçamento de 30 milhões de dólares, muito reduzido para os padrões habituais de Hollywood, Blomkamp conseguiu concretizar uma fita com bons efeitos especiais e um argumento capaz de prender a atenção dos mais desinteressados pela ficção científica.
A ignorância e o medo provocados pelo racismo são apresentados numa história ambientada na miséria do terceiro mundo, onde vão parar os extraterrestres, recebidos com medo e desconfiança pela raça humana. Os habitantes da Terra não sabem se os alienígenas irão realizar um ataque hostil ou proporcionar um avanço tecnológico ao planeta.
O que acontece, afinal, é que os alienígenas eram refugiados, sobreviventes do seu planeta natal, e enquanto se tentam adaptar a um universo desconhecido, a Terra e seus líderes discutem o que fazer com essas criaturas, temporariamente instaladas na África do Sul.
«Há muitas semelhanças entre o apartheid e muitas analogias ao governo opressor branco e à opressão da maioria negra. Mas sempre tive em mente que continuava a ser um filme de Hollywood» diz Blomkamp, que desenvolveu o projecto a partir da curta-metragem
«Alive in Jo'burg».
Peter Jackson interessou-se em produzir o filme e foi crucial para que os estúdios Sony investissem na sua concretização: «Foi muito mais do que eu esperei. É incrível conseguir tudo isto no meu primeiro filme, e eu agradeço a liberdade que me deram», sublinhou Blomkamp.
O jovem cineasta é conhecido pelos seus vídeos publicitários realizados em Vancouver, no Canadá, onde vive, e em 2008 foi premiado em Cannes pela realização de um anúncio ao jogo HALO. Foi através disso que conheceu Jackson, que contratou o jovem para dirigir uma adaptação ao cinema de um projecto que acabou cancelado.
«Queríamos trabalhar com o Neill e quando ele nos apresentou «District 9», decidimos que seria divertido transformar a ideia dele em um filme», disse Jackson.
Uma das peças-chave desta película é o desempenho do sul-africano
Shartlo Copley, que, como oficial da Multi-National United (MNU) lidera uma operação para controlar os extraterrestres, preocupando-se mais com os lucros que poderia obter com as armas dos alienígenas que com o bem-estar dos mesmos.
«Crescer na África do Sul e ter de lidar com a dor emocional tão forte por todo o passado que tivemos, teve realmente peso na composição da minha personagem», disse o actor, que é amigo de Blomkamp desde o colégio, em Joanesburgo.
Orgulhoso pelas mudanças históricas que o país alcançou a partir de 1994, quando se encerrou oficialmente a segregação racial, Copley admite que houve um processo social muito doloroso. Contudo, «para a minha geração é mais fácil, relativamente falando, porque nós não passámos pelos tempos realmente difíceis do apartheid», aponta.
SAPO/AFP
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