Christopher Plummer, celebrizado pelo papel do eterno Capitão Von Trapp em "Música no Coração" (1965) e vencedor do Óscar de Melhor Ator Secundário por "Assim é o Amor" (2011), morreu aos 91 anos na sua casa no Connecticut, nos Estados Unidos, ao lado da sua mulher Elaine Taylor, confirmou a sua família.
Segundo o jornal The New York Times, a sua esposa terá indicado que a causa foi uma ferida na cabeça após uma queda.
A imagem do Capitão Von Trapp no filme "Música no Coração" (1965) ficará para sempre colada à pele do ator canadiano, mas o seu imenso estatuto como ator está bem registado em mais de 60 anos de grandes interpretações, no cinema, na televisão e no teatro, onde interpretou praticamente todos os papéis relevantes do reportório clássico.
"O Chris era um homem extraordinário que amava e respeitava profundamente a sua profissão com um cavalheirismo à moda antiga, humor auto-depreciativo e a música das suas palavras. Ele era um tesouro nacional que valorizava profundamente as suas raízes canadianas. Através da sua arte e humanidade, ele tocou todos os nossos corações e a sua vida lendária vai perdurar por muitas gerações. Ele estará para sempre connosco", disse em comunicado o seu agente e amigo de longa data Lou Pitt.
No grande ecrã, Plummer, estreou-se em 1958 pela mão de Sidney Lumet no filme "Lágrimas da Ribalta". O papel principal chegou-lhe logo no segundo filme, "A Floresta Interdita", assinado por Nicholas Ray e a partir daí Plummer espalhou sempre talento e segurança por todos os filmes por onde passou, numa carreira que articulou sempre com o teatro.
Entre os papéis mais relevantes nas duas décadas seguintes contam-se "A Queda do Império Romano" (1964, no papel de Commodus), "O Estranho Mundo de Daisy Clover" (1965), "A Noite dos Generais" (1967, como Rommel), "A Batalha de Inglaterra" (1969), "Waterloo" (1970, como Duque de Wellington), "O Homem que Queria Ser Rei" (1975, como Kipling) ou "Processo Arquivado por Ordem Real" (no papel de Sherlock Holmes).
A partir dos anos 80, Plummer continuou a brilhar no teatro mas, com algumas exceções, reduziu o trabalho no cinema a papéis secundários de prestígio, embora quase sempre fundamentais para o tom do filme. Entre os mais exemplares contam-se "Somewhere in Time" (1980), "Os Olhos da Testemunha" (1982), o vilão General Chang de "Star Trek VI: O Continente Desconhecido" (1991), "Malcolm X" (1992), "Lobo" (1994) e "12 Macacos" (1995), a culminar no excecional papel de jornalista em "O Informador (1999), que lhe valeu diversas nomeações a prémios de interpretação.
Talvez por esse suplemento de reconhecimento, a década seguinte viu um renascimento de Plummer no grande ecrã em filmes como "Uma Mente Brilhante" (2001), "Ararat" (2002), "Alexandre" (2004), "Syriana" (2005), "O Novo Mundo" (2005), "Infiltrado" (2006), "A Casa do Lago" (2006), "Aritmética Emocional" (2007) e "Parnassus – O Homem que Queria Enganar o Diabo" (2009).
Por incrível que pareça, numa carreira excepcional com muitas décadas, foi o papel do escritor Leo Tolstoi em "A Última Estação" (2009), que lhe valeu finalmente a primeira nomeação para o Óscar, como Ator Secundário, durante uma cerimónia em que também estava nomeado outro filme em que entrou, a animação da Pixar "Up – Altamente!".
Em 2011, tornou-se o ator mais velho de sempre (82 anos) a ganhar o Óscar, como secundário, em "Assim é o Amor", pelo papel de um homem que, a seguir à morte da sua mulher, e já com 75 anos, resolve sair do armário, para uma preenchida, enérgica e maravilhosamente tumultuosa vida homossexual.
Plummer continuou, dando classe a filmes como "Millennium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres" (2011) e "O Número" (2015).
Em 2012, deu também voz ao filme de animação português “Kali, o Pequeno Vampiro”, realizado por Regina Pessoa, numa co-produção com a França e o Canadá.
Mais recentemente, destacam-se os episódios finais da série canadiana "Departure" (2019) e um comovente papel secundário em “Verdade Debaixo de Fogo” (estreado em Portugal só em março de 2020), além de "Knives Out: Todos São Suspeitos" (2019), ao lado de Daniel Craig, Chris Evans, Ana de Armas e Jamie Lee Curtis, entre outros, um grande sucesso de crítica e público, no papel do patriarca assassinado da família Thrombey, que foi a sua despedida do cinema.
"isto é verdadeiramente doloroso. Que perda inacreditável. Poucas carreiras têm tanta longevidade e impacto. Uma das minhas memórias favoritas de 'Knives Out' foi tocarmos piano juntos na Mansão Thrombey nos intervalos entre cenas. Era um homem adorável e um talento lendário", partilhou Chris Evans.
Mas antes, a carreira teve um último e fantástico capítulo, que até o tornou um enorme fenómeno mediático: o filme "Todo o Dinheiro do Mundo".
Quando Kevin Spacey foi envolvido na onda de escândalo de abusos sexuais do #MeToo no final de outubro de 2017 e alguns cinemas se preparavam para boicotar o filme, o realizador Ridley Scott apostou tudo numa jogada arriscada: refazer todas as cenas envolvendo o ator com um substituto, Christopher Plummer... a seis semanas da data de estreia (numa curiosa ironia, ele fora a primeira escolha para o papel, mas o estúdio queria um nome mais famoso).
Como recordaria mais tarde, a experiência do teatro foi essencial: batendo todos os recordes, o ator foi anunciado oficialmente a 8 de novembro, rodou as suas cenas como o milionário Jean Paul Getty entre 20 e 29 de novembro, o filme chegou aos cinemas a 25 de dezembro e entrou pela última vez na corrida ao Óscares a 23 de janeiro, tornando-se, aos 88 anos, o mais velho de sempre a ser nomeado.
Plummer foi casado três vezes, com a atriz Tammy Grimes, a jornalista Patricia Lewis e a atriz Elaine Taylor, em 1970, com quem permaneceu até ao fim. Tem uma única filha, do primeiro casamento, a também atriz Amanda Plummer, popularizada em filmes como “Pulp Fiction”.
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