Jacques Rivette morreu esta sexta-feira aos 87 anos, anunciou a sua produtora Martine Marignac.

Era um dos realizadores mais emblemáticos da Nova Vaga, que revolucionou o cinema francês nos anos 1950, deixando obras como "Paris nous appartient" (1961), "L’Amour fou" (1969), "O Bando das Quatro" (1989), "A Bela Impertinente" (1991) e "Sabe-se Lá" (2001).

O presidente francês François Hollande saudou Rivette como "um dos maiores cineastas francesas, cuja obra fora de padrões valeu a ele reconhecimento  internacional".

Já a ministra da Cultura, Fleur Pellerin, afirmou tratar-se do desaparecimento de "um dos principais cineastas da intimidade e da impaciência amorosa".

"Era um dos mais lúcidos, mais inventivos e mais livres da Nova Vaga", destacou o crítico e ex-presidente do Festival de Cannes Gilles Jacob.

Nascido a 1 de março de 1928 em Rouen, filmou a sua primeira curta-metragem, "Aux Quatre Coins", aos 20 anos, mudando-se para Paris, onde frequentou a Cinemateca Francesa e os cineclubes, como conheceu François Truffaut, Jean-Luc Godard, Éric Rohmer, Claude Chabrol, Alexandre Astruc e outros futuros cineastas da Nova Vaga.

Em 1950, funda com Rohmer, Godard e Astruc a Gazette du Cinéma, antes de se juntar às fileiras dos Cahiers du Cinéma contratado por André Bazin.

Aí, os seus artigos destacavam-se como os mais agressivos e bem escritos. Enquanto crítico de cinema, posicionou-se como um dos mais fervorosos defensores do cinema americano, em especial do realizadores como John Ford, Alfred Hitchcock, Howard Hawks e Nicholas Ray, considerados então pelas elites como meros cineastas de westerns e thrillers, ao mesmo tempo que era profundamente crítico do cinema comercial que então se fazia em França.

Ao mesmo tempo, continuava a fazer curtas e "Le Coup de Berger" (1956) é frequentemente considerado o primeiro filme da Nova Vaga, o nome dado ao movimento artístico que transgredia as regras vigentes no cinema, celebrado precisamente por Truffaut, Godard, Rohmer, mas também Alain Resnais e Agnès Varda, que acabaram por se estrear primeiro na realização de longas-metragens.

Jacques Rivette subiu a editor dos Cahiers em 1963, dois anos após "Paris nous appartient", o seu primeiro filme, e teve de combater publicamente as tentativas da censura francesa contra o trabalho seguinte, "A Religiosa", de 1966, um ano após deixar a revista.

"O cinema francês perde um de seus realizadores  mais livres e inventivos", referiu a atriz desse filme, Anna Karina.

O seu estilo cinematográfico aprimorou-se com "L'Amour Fou", de 1969, um monumental filme de de 252 minutos filmado a preto e branco a 35 e 16mm onde privilegia a improvisação à frente das câmaras, entre a ficção e o documentário, para contar a história da desagregação do casamento entre um atriz e o seu encenador durante os ensaios da tragédia "Andrómaca".

O trabalho seguinte, "Out 1" (1971), em duas versões, uma de doze horas e outra de quatro, adquiriu um estatuto quase mítico, mas "Céline et Julie vont en bateau"  (1974), foi mais bem recebido. O título tinha fortes elementos fantásticos, tal como "Dualidades" (1976) e "Vento do Noroeste" (1976).

Depois de não conseguir concretizar quatro projetos consecutivos, o cineasta sofre um esgotamento nervoso e abranda a carreira, só regressando em 1981 com "Merry-Go-Round" e "Le Pont du Nord". Foi neste último que encontrou Martine Marignac, que produziria todos os filmes seguintes.

"O Bando das Quatro" (1989), onde entrava Maria de Medeiros, e principalmente "A Bela Impertinente" (1991), com Michel Piccoli, Jane Birkin e Emmanuelle Béart, foram títulos bastante aclamados neste período em que começou a filmar com mais regularidade. O segundo recebeu mesmo o Grande Prémio do Júri do Festival de Cannes.

Um díptico sobre Joana D'Arc, "Jeanne la Pucelle" (1994), "Alto Baixo Frágil" (1995), "Secret Défense" (1998), "Sabe-se  Lá" (2001), "História de Marie e Julien" (2003) e "Não Toquem no Machado" (2007)  foram os trabalhos seguintes de uma carreira sempre marcada pelos mistérios das mulheres, o que se manteve em "36 Vistas do Monte Saint-Loup" (2009), onde reencontrava Jane Birkin, uma despedida do cinema três anos antes de se saber que sofria de Alzheimer.

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