O ator Dean Stockwell morreu esta segunda-feira na sua casa aos 85 anos, de causas naturais.

Começando ainda criança, era um dos poucos que ainda trabalhou com sucesso na era clássica de Hollywood, e que também conseguiu fazer a transição para os papéis adultos.

Filho dos atores Harry Stockwell e Nina Olivette, e irmão mais novo de outro ator, Guy Stockwell, nascido a 5 de março de 1936, Dean Stockwell começou a representar aos sete anos e a sua beleza e ar angelical levaram-no a um contrato com o estúdio MGM, então o maior de Hollywood, e logo aos filmes de grande sucesso "Paixão de Marinheiro" (1945) e "Alma Forte" (1946).

"A Luz é Para Todos" (1947), Óscar de Melhor Filme, e principalmente "O Rapaz dos Cabelos Verdes" (1948), um importante marco a favor do pacifismo, "The Secret Garden" (1949) e "Kim", foram outros títulos importantes da era clássica de Hollywood em que participou e não apenas em algumas cenas irrelevantes para as histórias: Dean Stockwell chegou a ser o principal ator infantil de Hollywood, distinguindo-se ao lado de atores como Gregory Peck, Errol Flynn, Gene Kelly, Frank Sinatra, William Powell, Myrna Loy, Greer Garson, Richard Widmark, Lionel Barrymore, Dana Andrews, Jean Peters e Margaret O'Brien.

Aos dez anos, Dean Stockwell sustentava toda a família, via o seu contrato como uma pena de prisão e detestava representar. Perdida a infância, parou em 1951, frequentou a universidade e só regressou cinco anos depois, principalmente para a televisão ("A Quinta Dimensão", "Alfred Hichtcock Apresenta", etc.), mas ainda encontrando projetos de prestígio no cinema como "O Génio do Mal" (1959), "Filhos e Apaixonados" (1960), "Longa Viagem para a Noite" (1962) e "O Despertar do Amor" (1965), trabalhando com atores como Orson Welles, Trevor Howard, Wendy Hiller, Katharine Hepburn, Ralph Richardson, Jason Robards e Melvyn Douglas.

Viúva... mas não muito

A seguir abandonou a indústria para viver como hippie, retomando em 1968 para alguns filmes e séries (os fãs de "Columbo" recordam a sua participação em dois episódios marcantes), mas sem o mesmo fulgor artístico e com o seu percurso anterior praticamente esquecido.

Após trabalhar na área imobiliária no início dos anos 1980, relançou a carreira como ator secundário a partir de "Paris, Texas" (1984) e a versão de David Lynch de "Dune" (1984), a que se seguiram "Viver e Morrer em Los Angeles" (1985), uma inesquecível participação em "Veludo Azul" (1986), novamente de David Lynch, "Jardins de Pedra" (1987), "O Caça Polícias II" (1987) e cinco minutos memoráveis como Howard Hughes em  "Tucker - O Homem e o Seu Sonho" (1988), culminando na nomeação para os Óscares pelo papel de mafioso na comédia "Viúva... Mas Não Muito" (1988).

A seguir, chocou amigos e colegas quando, logo a seguir, avançou para a televisão, com a série de ficção científica "Quantum Leap" ("O Viajante do Tempo" em Portugal), que, contrariando as previsões de "suicídio profissional", acabou por se tornar o seu trabalho mais conhecido: ele era o mulherengo e excêntrico Almirante Al Calavicci, o melhor amigo do doutor Sam Beckett (Scott Bakula), que em forma de holograma ajudava o viajante do tempo que encarnava uma nova pessoa em cada salto e tinha de completar uma missão, sempre na esperança que o próximo salto o levasse de volta a casa. A série tornou-se de culto e durou cinco temporadas, até 1994.

Quantum Leap

Ainda houve filmes como "O Jogador" (1992), de Robert Altman, "Força Aérea 1" (1997), "Os Polícias do Mundo" (2002) e "O Candidato da Verdade" (2004) e entrou em vários episódios de séries, mas foi com "Battlestar Galactica" (2006-2009) que se voltou claramente a destacar, como John Cavil, um dos Cylon com aparência humana que acabaria por se tornar um dos principais vilões.

Reformou-se como ator em 2015, após sofrer um trombose.