Ao falar pela primeira vez da controvérsia à volta da escolha de Johnny Depp para ser o vilão principal de "Monstros Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald", Daniel Radcliffe notou as diferenças de tratamento à volta dos atores envolvidos em escândalos, deixando uma crítica velada à escritora J.K. Rowling e aos produtores dos filmes, que são os mesmos da saga "Harry Potter".

Muitos fãs mostram-se revoltados com o envolvimento de Depp por causa das acusações de violência doméstica que lhe foram feitas pela ex-mulher, Amber Heard. O ator desmentiu tudo e a J.K. Rowling, o realizador David Yates e o estúdio Warner Bros. defenderam-no em comunicado.

Daniel Radcliffe tem uma posição diferente e admitiu que isso é "muito difícil" porque quer mostrar-se solidário com os produtores dos filmes "que me deram um grande empurrão na vida e um emprego fantástico."

"Consigo perceber a razão para as pessoas estarem frustradas com a resposta que receberam disso... não estou a dizer nada que outros não tenham já dito — e esta é uma analogia esquisita para comparar — na NFL [liga profissional de Futebol Americano] há imensos jogadores presos por fumarem erva e há o comportamento de outras pessoas que vai muito para além disso e é tolerado porque são jogadores muito famosos", comentou à revista Entertainment Weekly.

A seguir, notou as diferenças de tratamento na própria saga: "Acho que a coisa que me surpreendeu foi que tivemos um tipo que essencialmente foi repreendido por erva nos filmes [originais], portanto obviamente aquilo de que o Johnny tem sido acusado é muito maior do que isso".

Radcliffe estava-se a referir a Jamie Waylett, que interpretou o rufião Vincent Crabbe em seis filmes de "Harry Potter" e foi dispensado dos últimos dois "Harry Potter e os Talismãs da Morte" após ser detido e dar-se como culpado de plantar dez plantas de marijuana na casa da mãe em 2009 (posteriormente foi ainda preso por ter usado uma bomba artesanal durante os motins de 2011 em Londres).

Em dezembro, num comunicado no seu site oficial, a escritora e agora argumentista dos filmes que funcionam como as prequelas dos livros "Harry Potter" declarou estar "contente" com o envolvimento de Johnny Depp e explicou as razões.

"Quando Johnny Depp foi escolhido para ser Grindelwald pensei que ele seria maravilhoso no papel. No entanto, pela altura em que se filmou a sua pequena participação no primeiro filme ["Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los"], tinham aparecido histórias na imprensa que me preocuparam profundamente e a todos os que estão mais envolvidos com a saga", escreveu J.K. Rowling.

"Os fãs de Harry Potter tinham questão legítimas e preocupações sobre a nossa escolha de continuar com Johnny Depp no papel. Como já disse David Yates, há muito tempo o realizador da saga "Potter", naturalmente que considerámos a possibilidade de fazer nova escolha. Percebo porque é que alguns ficaram confusos e zangados por isso não ter acontecido", acrescentava a escritora.

"A enorme comunidade que se apoia mutuamente que se formou à volta de Harry Potter é uma das maiores alegrias da minha vida. Para mim, pessoalmente, a impossibilidade de falar abertamente aos fãs sobre este tema tem sido difícil, frustrante e, por vezes, penoso. No entanto, devem ser respeitados os acordos que foram feitos para proteger a privacidade de duas pessoas [Johnny Depp e Amber Heard], ambos expressando o desejo de continuar com as suas vidas", salientou no comunicado.

"Baseado no nosso entendimento das circunstâncias, os cineastas e eu não só estamos confortáveis por manter a nossa decisão inicial, mas genuinamente contentes por ter o Johnny a interpretar uma grande personagem nos filmes. Adorei escrever os primeiros dois argumentos e mal posso esperar para os fãs verem 'Os Crimes de Grindelwald'. Aceito que vão existir aqueles que não estão contentes com a nossa escolha do ator na personagem do título. No entanto, a consciência não é governada por comité. Dentro do mundo fictício e fora dele, todos temos de fazer aquilo que acreditamos ser o correto", concluiu Rowling.