«Amour», do alemão
Michael Haneke, foi o grande vencedor da 65ª edição do Festival de Cinema de Cannes. Inconfundível com sua barba e cabelos brancos, o cineasta, que já havia recebido uma Palma de Ouro em 2007 por «O Laço Branco», subiu ao palco acompanhado pelos intérpretes do filme, os lendários atores franceses
Jean-Louis Trintignant e
Emmanuelle Riva, que interpretam um casal cheio de amor e cumplicidades. Um dia toda essa vida desaba, quando ela fica doente. A película, que decorre integralmente num apartamento parisiense, retrata a deterioração acarretada pela velhice, refletindo com compaixão a dor de assistir à doença de um ente querido, de observar sua lenta passagem em direção à morte.

Haneke faz esse retrato com uma sensibilidade impressionante, um grande humanismo e uma emoção contida. «Quando se chega a uma certa idade, o sofrimento comove-nos inevitavelmente. Era só isso que queria mostrar, nada mais», disse Haneke na conferência de imprensa após a apresentação deste filme austero e doloroso.

O
Grande Prémio do festival foi para o italiano
Matteo Garrone por
«Reality», passado no mundo dos «reality shows» televisivos, que segue as desventuras de um pescador napolitano que participa na versão italiana do programa «Big Brother».

O
Prémio do Júri foi para
«The Angel's Share», de
Ken Loach, sobre o reinício de vida de um homem que acaba de ser pai, e o troféu de
Melhor Realizador foi para o talentoso e controverso cineasta mexicano
Carlos Reygadas, cujo desconcertante
«Post Tenebras Lux» provocou intensas reações em Cannes: vaiado nas salas, foi defendido por alguns críticos e por Thierry Frémaux, o responsável pela seleção da competição do certame.

O dinamarquês
Mads Mikkelsen conquistou o troféu
Melhor Ator por
«The Hunt», do seu compatriota
Thomas Vinterberg, no papel de um divorciado que trabalha num jardim de infância e se torna alvo de uma perseguição da população local. As romenas
Cosmina Stratan e
Christina Flutur, ambas estreantes, ganharam o prémio de
Melhor Atriz por
«Beyond the Hills», do romeno
Cristian Mungiu, que conquistara a Palma de Ouro em 2007 por
«4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias». A fita, que consquistou também o trofeu de Melhor Argumento, é inspirada num caso real que causou sensação na Roménia quando uma jovem faleceu na sequência de uma sessão de exorcismo num mosteiro.

A
Câmara de Ouro, que premeia um primeiro filme, foi para o realizador americano
Benh Zeitlin, com
«Beasts of the Southern Wild», um conto filosófico em Louisiana sobre uma menina de seis anos, que já conquistado o Grande Prémio no Festival de Sundance. «Este não é apenas o meu primeiro filme, mas também o primeiro de todos aqueles que trabalharam nele», declarou o cineasta de 29 anos.

Na secção
«Un Certain Regard», o vencedor foi o drama mexicano
«Después de Lucía», de Michel Franco, sobre a relação entre um homem e a sua filha de 17 anos que é vítima de «bullying» no liceu.

«No», do chileno
Pablo Larraín, foi o grande vencedor da
Quinzena dos Realizadores, secção em que o luso-descendente
Basil da Cunha conquistou uma Menção Especial pela curta
«Os Vivos Também Choram».

Entre os 22 filmes na competição principal, avaliados por um júri presidido pelo realizador italiano
Nanni Moretti, estava
«Cosmopolis», do realizador
David Cronenberg, inspirado num livro de Don Delillo, e produzido pelo português Paulo Branco.

SAPO com AFP

Foto: EPA/Lusa