O novo filme dos estúdios Pixar tinha inicialmente estreia agendada para as salas de cinema mas acaba agora por se estrear diretamente no serviço de streaming Disney+, onde chega esta sexta-feira. "Luca" acompanha um verão inesquecível de um miúdo, o mesmo que dá nome ao filme (interpretado por Jacob Tremblay), na cidade de Porto Rosso, claramente inspirada na zona costeira italiana de Cinque Terre.
As aventuras que vive com o seu melhor amigo Alberto (a quem dá voz Jack Dylan Grazer) reavivarão memórias de infância aos espectadores mas há uma coisa em que a história deles difere. Os dois têm um segredo: quando estão dentro de água eles são na verdade criaturas de um espécie marinha e só se parecem com humanos em terra.
A 24ª longa-metragem dos estúdios Pixar, realizada por Enrico Casarosa, cineasta nomeado ao Óscar pela curta-metragem "La Luna" e produzida por Andrea Warren, tem claras influências do cinema do japonês Hayao Miyazaki mas também de Frederico Fellini e lembra-nos não só os filmes dos dois cineastas como séries de animação das nossas infâncias como "As Aventuras de Tom Sawyer" ou "Conan, o Rapaz do Futuro", esta última criada também por Miyazaki.
Do elenco de vozes, para além de Jacob Tremblay e Jack Dylan Grazer, fazem ainda parte Maya Rudolph, Jim Gaffigan e Emma Berman. Atores, realizador e produtor estiveram na conferência de imprensa virtual de apresentação do filme, onde o SAPO Mag esteve presente.
Para o realizador Enrico Casarosa, italiano, nascido em Génova, "Luca" é de uma alguma forma autobiográfico, já que, explica, foi aos 11 anos, quando conheceu o seu melhor amigo, que o seu mundo se abriu.
"Naquele tipo especial de verão quando estamos a crescer e a encontrar-nos, eu seguia o meu amigo e de certa forma era arrastado para problemas por ele. Isso fez-me pensar sobre como nós nos encontramos com as nossas amizades ou sobre o quanto as amizades nos ajudam a encontrar quem queremos ser", conta o realizador.
"Luca" é sobre amizade, memórias de infância e aventuras que nos moldam em pequenos e nos fazem ultrapassar obstáculos. A personagem de Alberto, o melhor amigo de Luca, aventureiro intrépido, convence-o a calar as vozes dos seus medos gritando "Silêncio, Bruno!".
"Eu acho que são alguns dos temas realmente bonitos do filme. Todos nós temos essas críticas internas e essa sensação de dúvida e temos de dizer 'silêncio, Bruno!'", conta a produtora do filme, Andrea Warren.
"O Enrico e eu dizemos que nos precisamos de rodear na vida de alguns Albertos. Espero que algumas dessas mensagens realmente cheguem ao público e, especialmente, cheguem às crianças", acrescenta.
No início do filme, Luca é uma criança tímida e receosa, mas tudo muda quando conhece Alberto, explica Jacob Tremblay ("Quarto", "Wonder - Encantador"), a voz do herói da fita: "ele quer ser capaz de explorar o mundo humano, mas os seus pais impõem muitas restrições. Mas ele conhece o seu grande amigo Alberto e é ele que o ajuda a sair da sua zona de conforto".
Jack Dylan Grazer, o ator que dá voz ao corajoso Alberto, confessa ter muito em comum com a sua personagem. "Definitivamente sou um Alberto. Sempre fui um diabrete corajoso, sempre fui o primeiro a fazer as coisas, a subir na árvore e a agarrar o esquilo. Se alguém me desafiasse a fazer alguma coisa eu nunca via outra opção que não fazê-lo", confessa.
A formar o terceiro vértice do trio de amigos está a personagem Giulia, uma rapariga inteligente e também aventureira, a quem dá voz a jovem atriz Emma Berman. "Ela é uma personagem muito forte. Ela é determinada, trabalhadora, genuína e intensa. Mas também é estranha, peculiar e tonta. Eu diverti-me muito a interpretá-la porque me identifico com ela de várias maneiras", sublinha a atriz.
Como os pais de Luca, Daniela e Lorenzo, também criaturas aquáticas que se tornam humanas quando vêm a terra, estão os atores Maya Rudolph e Jim Gaffigan.
"Um dos aspectos mais aterrorizantes de ter filhos, é saber que eles têm que sair e explorar o mundo. Essa é a coisa mais assustadora da qual ela está a tentar protegê-lo", conta a atriz.
Para Jim Gaffigan, entrar em "Luca" melhorou a sua reputação em casa: "devo admitir que para os meus filhos, o facto de eu estar num filme da Pixar é a única coisa que os impressionou na minha carreira".
"Não sei se é ilegal para a Pixar fazer filmes maus, mas é muito empolgante entrar num filme do estúdio porque sabemos que vai ser bom", brinca o ator.
Um filme feito durante a pandemia
A pandemia de COVID-19 atingiu o mundo durante a produção de "Luca", tornando esta na primeira longa-metragem da Pixar feita quase inteiramente a partir de casa.
Foi preciso gravar todas as vozes dos atores a partir de casa e isso implicou "enviar iPads e microfones e por toda a gente a testar espaços nas suas casas onde o som pudesse ser abafado", explica a produtora Andrea Warren. "Lembro-me de o Jack [Dylan Grazer] estar a gravar dentro do armário da mãe e ouvirmos os cabides a bater", conta.
Mas ainda antes da pandemia, a equipa conseguiu fazer uma viagem de pré-produção a Itália para captar ao pormenor os ambientes e assim conseguir reproduzi-los no filme. "Quando fazemos estas viagens parecemos turistas estranhos porque andamos a tirar fotos de, por exemplo, cantos de paredes", recorda Andrea Warren. "Mas se a nossa profissão nos exige comer gelado italiano, isso é incrível", brinca.
"Luca" é, como explica o realizador Enrico Casarosa, um filme de "miúdos a serem miúdos", algo como o filme "Conta Comigo" que, confessa, ainda não tinha feito antes e queria fazer. E para além do cenário italiano que é, em si, quase uma personagem, há outra presença incontornável no filme, da música italiana da época. "Quando fazemos um filme de verão, queremos ouvir a música que está a passar na rádio, acho que isso faz parte do género. E há tantas canções boas na música pop italiana dos anos 50 que quis que elas entrassem", salienta o realizador.
"Luca" chega ao serviço de streaming Disney+ esta sexta-feira, 18 de junho.
Comentários