A caminho dos
Óscares 2021
Os protagonistas de "Judas e o Messias Negro", filme que venceu um Globo de Ouro em 28 de fevereiro, recordaram o impacto físico e emocional sentido durante as filmagens devido ao peso da história verídica que inspirou a película.
"Quando chegámos à parte final das filmagens, na noite anterior eu tinha o estômago às voltas, o meu coração a bater muito rápido e uma sensação enorme de que algo terrível ia acontecer", disse a atriz Dominique Fishback, que interpreta Deborah Johnson no filme, durante um evento da Cinemateca Americana, em Los Angeles.
Considerado potencial candidato ao Óscar de Melhor Filme na próxima edição dos prémios da Academia, que ainda não revelou a lista de nomeados, "Judas e o Messias Negro" está a ser bem recebido pela crítica e estreou ao mesmo tempo nas salas de cinema e no serviço de streaming HBO Max.
Em Portugal, a estreia nos cinemas está dependente da visibilidade na temporada de prémios, nomeadamente os Óscares, apurou o SAPO Mag.
O filme conta a história verdadeira do ativista e revolucionário afro-americano Fred Hampton, líder do Partido dos Panteras Negras, que foi morto a tiro pela polícia em 4 de dezembro de 1969, em Chicago, quando dormia com a namorada grávida, Deborah Johnson.
"Quando cheguei à réplica do apartamento, a energia era muito pesada", afirmou Dominique Fishback, recordando a dificuldade de filmar a cena da invasão policial em que Hampton, o "messias negro", foi morto.
"Chegámos a dizer ao Shaka que se calhar devia contratar um psicólogo", contou, referindo-se ao realizador e co-argumentista Shaka King.
Fred Hampton, que tinha apenas 21 anos quando foi assassinado, é interpretado neste filme por Daniel Kaluuya. O papel deu-lhe o Globo de Ouro de Melhor Ator Secundário nos prémios da Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood.
"Foi muito difícil tomar decisões e ser tão afiado como queria, porque estava a sentir estas emoções pessoais", disse Daniel Kaluuya. "Senti que foi o dia mais pesado, por causa de tudo o que estava a acontecer".
A cena do assassínio foi filmada no dia em que se assinalaram 50 anos desde a morte de Fred Hampton, o que tornou o momento ainda mais carregado de simbolismo, pela importância que o movimento do Partido dos Panteras Negras teve para muitos afro-americanos.
"O LaKeith desfez-se naquele dia", afirmou o realizador Shaka King, descrevendo a violenta reação física que o ator LaKeith Stanfield ("Get Out") teve ao interpretar William O'Neal, o informador que revelou ao FBI a localização de Fred Hampton.
"Dava para ouvir o coração dele a explodir nos nossos auscultadores, a bater de forma insanamente rápida", revelou Shaka King. "Nunca tinha visto nada assim", continuou o realizador, contando que o ator tinha passado a manhã a vomitar.
"Esse dia não foi piada nenhuma", reforçou Daniel Kaluuya.
O filme foi produzido por Charles D. King e Ryan Coogler ("Black Panther"), e aborda os acontecimentos que levaram à morte de Hampton e vários outros líderes do Partido dos Panteras Negras, bem como a campanha de desinformação e dissidência concebida pelo FBI para conter o movimento.
"Estava entusiasmado por trazer à luz as ideias a que o 'chairman' [líder] Fred aspirou", disse Shaka King, explicando que quis fazer um filme holístico, entrecruzando várias narrativas sobre amor, política, sofrimento e traição, sobrepostas nos discursos revolucionários de Hampton.
Os criadores tiveram contacto com a então namorada de Fred Hampton, Deborah Johnson (interpretada por Dominique Fishback), com o filho do ativista, Fred Hampton Jr., e com a viúva de William O'Neal, que viu o seu papel como infiltrado do FBI ser revelado em 1973.
Se "Judas e o Messias Negro" receber uma nomeação para Melhor Filme nos Óscares da Academia, será o primeiro título de um trio de afro-americanos (Shaka King, Ryan Coogler e Charles D. King) a consegui-lo.
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