Jodie Foster declarou esta quarta-feira durante o Festival de Cannes que viu o seu primeiro "cinema feminista" com os filmes de Pedro Almodóvar, de quem elogiou o seu "amor" pelas mulheres.
A atriz e realizadora norte-americana, que recebera no dia anterior a Palma de Ouro Honorária das mãos do cineasta, considerou que o autor de "Dor e Glória" foi uma figura marcante para ela.
"Almodóvar é muito importante na minha carreira porque representa o primeiro cinema feminista que vi", explicou durante uma masterclass organizada pelo festival.
"Foi a primeira vez que vi filmes que falavam realmente de mulheres, de dentro da experiência feminina”, acrescentou.
Para a atriz americana, Almodóvar tem um "grande dom", que é "esse amor pelas mulheres".
Isso torna-o uma exceção entre os realizadores que não conseguem colocar-se no lugar de uma mulher e perguntar-se "qual é a complicada e complexa experiência de ser mulher", insistiu.
A filmografia do diretor espanhol, presença habitual na Croisette, onde já concorreu seis vezes à Palma de Ouro mas nunca a ganhou, está totalmente relacionada com o universo feminino.
De "Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988) a "Julieta" (2016), passando por "Volver" (2006) e "Tudo Sobre a Minha Mãe" (1999).
Depois do parêntesis de "Dor e Glória" (2019), o seu filme mais autobiográfico, o realizador voltou ao seu tema preferido com "Parallel Mothers", recém filmado e ainda não lançado, sobre duas mulheres que dão à luz no mesmo dia.
Esta quarta-feira, Foster incentivou as profissionais do cinema a dedicarem-se ao trabalho, sejam atrizes, realizadoras ou técnicas.
"Agora é a altura!", disse a cineasta, para quem existe atualmente "uma consciência, embora as coisas não tenham completamente mudado".
"É um pouco um cliché dizer [para as mulheres] 'contem as suas próprias histórias'". Mas "devemos perguntar-nos 'é algo que carrego comigo?', em vez de tentar agradar aos espectadores e produtores", insistiu perante um auditório esgotado.
Questionada sobre a paridade em Hollywood, Foster garantiu que "muitas coisas mudaram".
"Quando comecei esta carreira, não havia mulheres [...], tinha uma maquilhadora, a mulher que via o argumento", mas "não via outras mulheres. Isso mudou", concluiu.
Duas vezes vencedora do Óscar, por "Os Acusados" (1988) e "O Silêncio dos Inocentes", Jodie Foster recebeu a Palma de Ouro Honorária 45 anos depois de pisar pela primeira vez Cannes com "Taxi Driver" (1976), de Martin Scorsese.
"Quem diria que aquela rapariga se tornaria a artista excepcional que é agora", disse Almodóvar ao entregar-lhe o prémio.
Com o público de pé, Foster agradeceu e expressou o seu "orgulho de pertencer à comunidade cinematográfica".
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