"Titanic", o terceiro filme mais lucrativo da história, tendo atingido 2,194 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) em receitas de bilheteira, celebra 25 anos e está de volta às salas de cinema, agora reconvertido par 3D. A longa-metragem poderá ser vista no grande ecrã a partir desta quinta-feira, dia 9 de fevereiro.
Para celebrar o aniversário de "Titanic", James Cameron juntou-se a Jon Landau, produtor do filme, para uma conversa com os jornalistas. Na conferência online, em que o SAPO Mag marcou presença, o realizador começou por recordar como surgiu a ideia e a vontade de fazer um filme sobre a história verídica da viagem inaugural do navio Titanic, que saiu do porto de Southampton a 10 de abril de 1912, em direção a Nova Iorque.
"Fiquei fascinado pelo Titanic a partir do momento em que comecei a trabalhar com a equipa da Woods Hole Oceanographic Institution, que fazia toda a robótica e outras coisas que me interessavam quando fiz 'O Abismo' (1989). Eles ficaram conhecidos por ter feito a primeira exploração de Titanic com o Robert Ballard", lembra, acrescentando que conheceu o especialista em investigação oceanográfica. "E comecei a pensar no Titanic e, então, fui ver 'A Tragédia do Titanic' - um famoso filme a preto e branco - e pensei: 'Uau, que cenário incrível para uma cena de amor'", acrescenta.
Veja o trailer:
"Pensei em fazer uma espécie de 'Romeu e Julieta' no Titanic", conta o realizador, recordando que apresentou rapidamente a ideia aos executivos da 20th Century Fox.
Depois da luz verde para avançar com o projeto, James Cameron e a sua equipa começaram a pensar nos atores que poderiam protagonizar o filme. "Quando escolhemos a Kate Winslet ela tinha 19 anos e o Leonardo DiCaprio tinha 20, acho eu (...) Eles eram jovens, mas já estavam bem encaminhados", conta.
"O 'Leo' já tinha feito 'Romeu e Julieta', o que o levou à posição de protagonista. A Kate já tinha feito outros papéis notáveis", acrescenta o realizador. Mas, inicialmente, Leonardo DiCaprio não aceitou o desafio: "Não estava tão interessado no papel. E citaram-me de forma incorreta ao dizerem que disse que ele achava chato. Ele não achou o filme chato, ele achou o filme bom. Mas pensou que poderia não ser desafiante - chato não é a palavra certa", explica.
"Ele estava à procura de um desafio", acrescenta. "Tive de o convencer e mostrar que o Jack era o elemento mais emocional do casal e que era a partir dele que Rose iria crescer. Foi quando o convenci do desafio que seria fazê-lo que ele se interessou", recorda James Cameron.
Mas o processo para encontrar a atriz para interpretar Rose foi diferente. Na conferência de imprensa online, o realizador recorda que foram marcados vários castings com "jovens atrizes". "A Kate foi uma delas. Ela mostrou muito interesse e entusiasmos pela personagem e acreditava que conseguia fazer. Eu não estava tão convencido e fiquei um pouco nervoso porque ela já tinha feito vários dramas de época".
Para dissipar todas as dúvidas, a equipa decidiu fazer um teste de imagem, num dos cenários do filme. "E, então, escolhemos a Kate", recorda o realizador, lembrando que Kate Winslet lhe enviou um bilhete e uma rosa vermelha: "Dizia: 'eu sou a sua Rose'".
"Não sou parvo. Eu conseguia ver a química entre os dois e a Kate só me dizia ‘É ele! É ele'", completa.
"O sentimento duradouro do desgosto"
Mais de um século depois, a tragédia continua a conquistar o interesse de várias gerações. "Houve tragédias muito maiores desde o Titanic, como as Guerras Mundiais, mas [o desastre] tem esta qualidade mítica e penso que isso tem que ver com o amor, o sacrifício e a mortalidade”, defende James Cameron. "É o sentimento duradouro do desgosto. O sentimento de perda, de tristeza, de tudo combinado numa história incrível", continua.
A colisão com um icebergue e o consequente afundamento a 14 de abril levou à morte de mais de 1500 pessoas, sendo que apenas 706 passageiros e tripulantes sobreviveram.
Sem botes salva-vidas em número suficiente para os 2240 passageiros, o estatuto social determinou a vida e a morte de quem ia no Titanic. Esse é o outro grande tema que torna esta história relevante no nosso século, disse Cameron. “O subtexto do Titanic é a diferença entre os ricos e os pobres, os que têm e os que não têm, quem morreu e quem sobreviveu”, considerou.
“Na terceira classe, quase todos os homens morreram e cerca de metade das mulheres e crianças morreram. Na primeira classe, metade dos homens morreram e quase todas as mulheres e crianças sobreviveram”, descreveu Cameron. “Podemos ver que há uma forte disparidade entre o destino das pessoas pobres e dos ricos numa crise”.
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Isso está agora a repetir-se com as alterações climáticas, disse o realizador, que tem como um dos grandes focos da sua vida a preservação dos oceanos.
“Estamos a avisar para isto há anos, vemos que está a vir contra nós, não podemos desviar o navio”, disse. “É exatamente como o raio do icebergue. Vamos bater de frente e adivinhem quem vai sofrer mais? Os pobres, não as nações ricas que as causaram”.
“Os ricos vão safar-se, porque os ricos safam-se sempre”, afirmou. “Estes temas são mais relevantes do que nunca”.
"O empoderamento feminino e uma grande história de amor"
O filme “Titanic” regressa às salas de cinema a 9 de fevereiro para celebrar o 25.º aniversário, numa altura em que os seus temas dominantes “são mais relevantes do que nunca”, sublinha James Cameron em conferência. "É o empoderamento feminino e uma grande história de amor, emocionalmente devastador, no final, mas também agridoce pela realização [de Rose] como pessoa”, afirma.
O realizador considera que parte do sucesso de “Titanic”, que ganhou 11 Óscares da Academia, se deveu ao tema da libertação feminina, personificada em Rose, interpretada pela atriz Kate Winslet. "O que acho é que as jovens mulheres estão num ponto das suas vidas em que a sociedade lhes diz para não serem quem são”, indica. "Estão a dizer-lhes para se sentarem, para se calarem e apertarem o corpete. Façam o que a sociedade dominada pelos homens espera que elas façam", remata.
O apelo de um jovem Leonardo DiCaprio (então com 20 anos) no papel de Jack, disse o realizador, apenas explica parcialmente porque é que o filme foi tão cativante, por exemplo, junto das mulheres.
“Este é um filme sobre a Rose e a sua realização como pessoa. O Jack foi um catalisador mas ela continuou e teve uma vida cheia, realizou todo o seu potencial”, descreve James Cameron. “Isso fala às mulheres na audiência e aos homens que se importam com estas coisas, como é o meu caso”, frisa.
Uma viagem no cinema
O relançamento de “Titanic” no grande ecrã acontece numa altura em que as salas de cinema procuram reinventar-se depois da pandemia de covid-19 e numa era dourada do 'streaming', em que muitas pessoas preferem ver filmes em casa.
Para Cameron, ver este filme numa sala de cinema “é muito diferente” de o ver em casa, não apenas pelo tamanho do ecrã e qualidade do som, mas pelo compromisso e experiência social que representa. "Não se pode 'pausar' nem dividir por três noites ou vê-lo enquanto se faz outra coisa”, afirma. Uma pessoa "embarca numa viagem em que a emoção vai aumentando e tem uma sensação maior de presença”.
“Titanic” é o terceiro filme mais lucrativo da história, tendo atingido 2,194 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) em receitas de bilheteira. Se a receita anterior fosse ajustada ao valor atual do dólar, já teria ultrapassado os 4 mil milhões (cerca de 3,4 mil milhões de euros).
James Cameron – que ocupa três lugares no 'top cinco' de filmes mais lucrativos de sempre, “Avatar” em primeiro, “Titanic” em terceiro e “Avatar: O Caminho da Água” em quarto – disse que este sucesso “foi realmente uma anomalia”.
"Muitas pessoas saíam de uma sessão e compravam bilhete para uma próxima. Era uma experiência emocional que partilhavam uns com os outros, uma viagem marcada pelo “desgosto, a tristeza e a beleza da história de amor que culmina de forma trágica”, recorda.
"Titanic provou que um filme pode ter 03h15 de duração", frisa James Cameron, acrescentando que os espectadores quem sempre rever o filme com pessoas especiais: "Querem partilhar essa experiência com outras pessoas. O cinema é um elo de ligação. É um compromisso".
Cameron acredita que “Titanic” manterá sempre este valor e um certo estatuto icónico: “O filme vai continuar presente durante muito tempo a lembrar as pessoas dessa tragédia real que aconteceu”.
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