Uma exposição na Cinemateca Francesa dedicada a
Jacques Tati chegou recentemente às primeiras páginas dos jornais do hexágono por uma questão que pouco tinha a ver com cinema: é que, para fazer respeitar a lei que proíbe a exibição de álcool ou tabaco em materiais publicitários em França, teve de ser alterada a imagem que apresenta o icónico
Senhor Hulot, para substituir o seu eterno cachimbo na boca por... um moinho de vento.
Macha Makeïev, comissário da exposição que se intitula «Tati, deux temps, trois mouvements», recusou inicialmente a proibição, mas o acordo da Cinemateca Francesa com as redes de Metro e Autocarro, em que a publicidade é extensamente utilizada, obrigou a contornar o problema de outra forma, cedendo à eliminação do cachimbo nos cartazes afixados nesses locais. Segundo afirmou Makaïev, «ainda propus substituir o cachimbo pelo caligrama «ceci n’est pas une pipe», mas eles não aceitaram. Propus então mascarar o cachimbo de forma tão evidente que saltasse à vista de todos».
Surgiu assim a ideia do moinho de vento amarelo, cujo absurdo resultaria certamente adequado num filme do próprio Jacques Tati. O realizador
Costa-Gavras, ex-presidente da Cinemateca, afirmou ao «Le Parisien» que a situação «é absurda e risível. Acho que o faria [a Tati] morrer de riso».
Jacques Tati foi um dos grandes mestres da comédia no cinema, com uma filmografia curta mas genial, que explorou como ninguém os pequenos e grandes absurdos da vida moderna.
«Há Festa na Aldeia», de 1949, foi a primeira longa-metragem que assinou, a que se seguiu o incontornável
«As Férias do Sr. Hulot», em 1953, em que criaria a impagável e imorredoira figura do Senhor Hulot. Sempre de cachimbo nos lábios e catalisador de mil e um desastres, Hulot protagonizaria ainda os filmes
«O Meu Tio», vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1958,
«Playtime – Vida Moderna» (1967) e
«Trafic – Sim, Senhor Hulot» (1971).
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