O documentário é o retrato do Lugar da Uz, a 20 quilómetros de Cabeceiras de Basto, onde os habitantes têm "valores comuns" de respeito pelo outro, pela terra e pelos animais e que podem sensibilizar "mesmo quem nada tem a ver com o campo, mesmo o parisiense", disse o realizador, acrescentando que o que o "levou a fazer o filme foi querer partilhar com o público" esses valores.

"A entreajuda, o reconhecimento da importância do outro, a agricultura de subsistência, uma política de não consumismo e a partilha e o amor pelos animais e pela natureza são um espírito muito forte que não há nas cidades. Acaba por ser também uma lição de bem viver e de bem-estar. No fundo também é essa a mensagem que me interessa passar", descreveu João Pedro Plácido.

Rodado entre dezembro de 2011 e janeiro de 2013, o filme nasceu da admiração do realizador pela ruralidade, um universo que evoca as suas raízes familiares.

"A minha mãe nasceu ali, os avós que me educaram em Lisboa também vinham de lá e eu passei lá muito tempo nas férias de verão todos os anos. Eu ia lá e essas pessoas, no fundo, acabaram por ser uma espécie de heróis desde a minha infância", afirmou João Pedro Plácido, caracterizando-se como "um citadino educado com os valores do campo" que lhe parecem "muito mais humanos e muito mais corretos do que aqueles que se vivem e se praticam na cidade".

João Pedro Plácido gostaria que o seu filme conseguisse "motivar a comunidade portuguesa [de França] para ir ao cinema" porque - pelo que viu nas antestreias nas salas francesas - o documentário suscita muita empatia dos espetadores com "um tema universal".

"É um filme que toca muito os emigrantes que ficam muito felizes, que veem o passado. É um filme que lhes toca o coração e a alma. Pelo que tenho visto nos debates, toda a comunidade portuguesa - e também muitos franceses que vêm do mundo rural - se identificam completamente com o filme", continuou.

Eleito o melhor filme português do DocLisboa 2014 e tendo conquistado vários prémios internacionais, o documentário esteve presente no Festival de Cannes no ano passado no âmbito da seleção da associação francesa ACID (Associação do Cinema Independente para a sua Difusão).

O filme também esteve, no ano passado, no CineMed ("Festival international du cinéma méditerranéen de Montpellier"), em França, no qual venceu o Prémio Ulysse do documentário e Prémio Estudante para Primeira Obra, tendo, ainda, sido considerado o melhor documentário do Chicago Film Festival, nos Estados Unidos, e integrado a seleção do Trento Film Festival, em Itália, em que conquistou o Gentiana de Prata para melhor contribuição técnica e artística.

O filme, que se estreou em Portugal em julho do ano passado, também foi selecionado, em 2015, para o London Film Festival, em Londres, para o festival Visions du Réel, na Suíça, para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no Brasil, e para o DOK Leipzig - Festival Internacional de Documentários e Filmes de Animação.

Apesar da projeção internacional do seu primeiro filme enquanto realizador, João Pedro Plácido explicou que pretende continuar a trabalhar apenas como diretor de fotografia e operador de câmara e disse que só volta à realização se for para regressar ao Lugar da Uz daqui a muitos anos.

"O único filme que me imagino fazer agora é daqui a 20 ou 30 anos, voltar à Uz e fazer um retrato do que será a Uz daqui a 20 ou 30 anos. Neste momento, estou a fazer três filmes diferentes para realizadores diferentes. Sou diretor de fotografia, operador de câmara. Estou muito feliz com a minha profissão e não me interessa desenvolver a realização fora do tema que me é tão querido que é a ruralidade", concluiu.