O festival mais antigo da capital portuguesa decorre entre 16 e 24 de setembro no cinema São Jorge e na Cinemateca, com a exibição de 114 filmes de 27 países diferentes – entre os quais 11 nacionais. Inglaterra, Estados Unidos e Brasil são os mais representados.

O certame segue depois para o Porto entre 5 e 9 de outubro, com a programação a ser divulgada no próximo dia 27.

Entre os eventos paralelos na capital, um dos destaques decorre antes da sessão de abertura: “50. Orlando, Ouve” traz uma performance baseada em textos de André Murraças que recria o trágico massacre da discoteca Pulse, em Orlando, este ano. O tiroteio causado por um atirador homofóbico vitimou 50 pessoas naquele que é considerado o maior ataque à comunidade LGBTI da história dos Estados Unidos.

Trinta minutos depois é a vez da irreverência: o festival este ano abre com a comédia “Absolutely Fabulous: The Movie”, baseado na famosa série da BBC dos anos 1990 que foi exibida em Portugal pela RTP.

Na longa-metragem, as “alcoólicas” e espalhafatosas Edina Monsoon (Jennifer Saunders) e Patsy Stone (Joanna Lumley) agridem acidentalmente Kate Moss e têm de fugir para a Riviera Francesa.

A obra chega a Lisboa depois de muitas dificuldades de ordem prática em virtude da falência da distribuidora internacional.

'As duas sessões do Queer serão as únicas oportunidades de se ver o filme em grande ecrã em Portugal', ressalta o programador Nuno Galopim.

Também tem origem na TV “Looking – The Movie”, telefilme do realizador Andrew Haigh que encerra o festival e a história da série que acompanha três amigos gay de São Francisco. O cineasta foi o realizador de “45 anos”, um dos grandes sucessos do cinema alternativo do ano passado.

'A realidade LGBT em Portugal é bastante positiva'

É no que acredita o diretor do Queer, João Ferreira, ao comparar a situação do preconceito contra os homossexuais com a que se verifica noutras nações europeias: enquanto em alguns lugares a homofobia beneficia até do apoio estatal, como na Rússia, em países como a Espanha o debate a propósito do casamento homossexual foi muito mais intenso.

'Acho que os vinte anos do festival refletem bem a sociedade aberta em que vivemos. Sempre tivemos um público muito diversificado e nunca fechado dentro de uma determinada comunidade. Qualquer pessoa interessada em cinema vem ao nosso evento', observa.

A evolução das mentalidades em Portugal foi um processo também acompanhado pelo festival.

'A sociedade portuguesa mudou muito', diz Ferreira. 'Quando surgimos, em 1997, tivemos de nos colocar um passo à frente da mentalidade da altura. Desde então, apesar de o festival não fazer ativismo no sentido mais político do termo, procuramos sempre acompanhar a realidade social e política do país'.

O universo queer ao redor do mundo

Se um dos objetivos expressos do certame é 'dar a conhecer realidades das populações 'queer' nas diferentes geografias', como assinala o diretor, cinco diferentes secções trazem uma programação que engloba os mais diversos temas e locais.

Um dos destaques da competição, segundo Galopim, é “Antes o Tempo não Acabava”, obra brasileira vinda da seção Panorama, do Festival de Berlim, que traz um Brasil muito pouco conhecido ao mostrar o choque de culturas entre índios e ocidentais na periferia de uma grande cidade da Amazónia.

Outras obras salientadas pelo programador incluem o austríaco “Kater”, também exibido em Berlim, que trata da vida de artistas ligados à música clássica, “Rara”, exemplar chileno do forte cinema LGBTI da América do Sul, e “Theo et Hugo dans le Même Bateau”, obra francesa marcada por uma abordagem sobre o HIV.

Já na mais experimental Queer Art ressalta-se “A Seita”, obra caracterizada por uma história construída sobre uma Recife (Brasil) futurista, enquanto nos documentários é outro brasileiro, “Waiting for B.” um dos destaques. Divertido e dramático, o filme revela quem são as pessoas que montam verdadeiros acampamentos em São Paulo, com antecedência de semanas, à espera de Beyoncé…

Política, militância e música: a retrospetiva de Derek Jarman

Conforme salientado num artigo anterior do SAPO MAG, outro dos pontos altos é a retrospetiva dedicada a um dos grandes militantes da causa LGBT entre os anos 1970 e 1990: o britânico Derek Jarman terá uma mostra quase integral da sua obra na Cinemateca – onde estarão disponíveis algumas das suas longas-metragens mais mediáticas, como “The Last of England” e “Eduardo II”, e originais abordagens da obra de Shakespeare, como “The Tempest”.

A mostra também inclui os seus trabalhos em super 8, formato com que viabilizava os seus projetos durante as longas esperas por financiamento.

Entre estes estão registos das cenas punk e pós-punk inglesas nos finais dos anos 1970.É preciso recordar que a música também lhe serviu de sustento através dos telediscos – onde criou alguns para artistas como The Smiths.

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