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O realizador romeno Radu Jude tem esperança numa segunda vitória no Festival de Cinema de Berlim com a sua última produção, filmada num iPhone em apenas 10 dias.
Contendo o humor excêntrico típico de Jude e o gosto pelo absurdo, "Kontinental '25" narra a vida de uma oficial de justiça trabalhadora que é atingida pela culpa causada por um suicídio ligado ao seu trabalho.
Filmado na província romena da Transilvânia, baseia-se numa notícia de imprensa que Jude leu há muitos anos e foi desenvolvido como um projeto paralelo ao seu próximo épico sobre Drácula, apresentando muitos dos mesmos atores.
"É uma escolha que alguém pode... tentar encontrar muito dinheiro para poder fazer um filme de forma confortável, mas queria o outro caminho", explicou antes de dizer estar cada vez mais interessado na simplicidade do cinema dos primórdios.
"Com um pouco de dinheiro, conseguimos fazer um filme", disse aos jornalistas na quarta-feira no festival Berlinale, após a estreia mundial.
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O realizador de 47 anos emergiu como um favorito do cinema europeu, tendo ganho o Urso de Ouro de Berlim em 2021 com a sua história explícita sobre um professor e uma fita de sexo intitulada "Má Sorte no Sexo ou Porno Acidental".
Os principais filmes rodados exclusivamente em telemóveis surgiram há cerca de uma década, incluindo "Tangerine" (2015), do nomeado aos Óscares Sean Baker, enquanto Steven Soderberg usou um para "Distúrbio" (2018) e "High Flying Bird" (2019).
Lado ridículo
Em "Kontinental '25", a oficial de justiça Orsolya busca o conforto de amigos, de um ex-aluno e de um padre enquanto tenta lidar com o seu papel na morte de um sem abrigo.
O filme pretende ser uma crítica social à economia em expansão da Roménia, sendo a bem-intencionado Orsolya uma personagem secundária apanhada no movimentado mercado imobiliário.
Longas sequências de diálogos frequentemente engraçados e filosóficos apresentam referências às guerras na Ucrânia e em Gaza, dando-lhe um toque altamente contemporâneo.
Jude disse que o humor excêntrico de uma história sobre uma crise moral pessoal refletia a realidade da vida da maioria das pessoas.
"Todas as coisas humanas têm um lado ridículo, uma estupidez”, disse.
“Pode-se ver os dois lados. Pode-se ver a seriedade do drama das coisas, mas, ao mesmo tempo, a dimensão ridícula.”, esclareceu.
O júri da Berlinale, liderado este ano pelo realizador norte-americano independente Todd Haynes, anunciará os seus prémios numa cerimónia no sábado. Um total de 19 filmes concorrem na categoria principal ao Urso de Ouro.
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