O primeiro grande festival de cinema do ano começou esta quinta-feira (10), em Berlim, com o propósito de abrir as portas ao público, com precaução, e de conciliar o cinema comercial com o de autor, destacou o júri.

A Berlinale é um evento que se vangloria de ocupar dezenas de salas de cinema na cidade e de vender milhares de bilhetes todos os anos.

Nesta 72ª edição, porém, teve a duração da competição para seis dias, revelando os premiados a 16 de fevereiro. A capacidade das salas também será menor, com reserva obrigatória.

O júri: os cineastas Ryusuke Hamaguchi, Tsitsi Dangarembga e M. Night Shyamalan, o produtor Said Ben Said, a cineasta Anne Zohra Berrached, a atriz Connie Nielsen e o cineasta Karim Ainouz

"O papel da Berlinale é declarar que não há diferença entre o cinema comercial e o de autor", declarou o cineasta japonês Ryūsuke Hamaguchi, numa conferência de imprensa.

A sua opinião foi partilhada por outros membros do júri, presidido pelo cineasta M. Night Shyamalan.

"Quando se olha para a história [do cinema], não havia diferença entre as duas categorias", acrescentou Hamaguchi, um dos grandes nomes do cinema japonês atual, que viu o seu filme mais recente, "Drive My Car", receber quatro nomeações para os Óscares.

"Quando se faz um filme comercial, supõe-se que a história deva ser apenas para o público, para chocá-lo, ou fazê-lo rir", resumiu Shyamalan, realizador de sucessos como "O Sexto Sentido", "O Protegido", "Sinais" e "Fragmentado".

"O cinema independente é o de uma pessoa específica, uma nova perspetiva sobre o mundo. Sai-se da sala transformado, não se é mais o mesmo - embora seja mais difícil", acrescentou.

"A minha esperança é que as pessoas possam ver um pouco de mim [nos meus filmes] e que eu também consiga vê-los neles", explicou.

A 72ª edição do festival alemão começou com uma espécie de homenagem do realizador francês François Ozon ao mestre Rainer Werner Fassbinder e ao seu filme "As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant", de 1972, que estreou precisamente na Berlinale.

Ozon, de 54 anos, assinou a adaptação do clássico, rebatizada de "Peter von Kant". O filme é ambientado numa residência sumptuosamente decorada, bem ao estilo de outras obras do cinetas.

Hanna Schygulla, a atriz alemã agora com 78 anos, volta a aparecer no filme que a elevou ao estrelato há meio século, ao lado de Denis Menochet e Isabelle Adjani.

Todos eles "fecharam-se" com Ozon para rodar esta longa, em plena pandemia, explicou o realizador em conferência de imprensa.

Para esta versão, em vez de uma Petra "devoradora" de homens, Ozon optou pela figura de um realizador de cinema que se apaixona por um jovem ator.

"Um realizador precisa questionar-se como utiliza o seu poder. Assim, utilizei este texto para perguntar estas questões, a mim mesmo e aos espectadores", explicou.

Homenagem a Isabelle Huppert

Isabelle Huppert em "Ela"

Poucas estrelas devem comparecer a Berlim. A francesa Isabelle Huppert, atriz que se destaca pelos seus papéis arriscados e controversos, receberá um prémio pela sua carreira.

O júri deve anunciar o tradicional Urso de Ouro de melhor filme em 16 de fevereiro.

A edição de 2021 da Berlinale decorreu virtualmente, um formato que foi dececionante para a crítica e para o público.

O Festival de Berlim deste ano "é um exercício de resistência", afirmou o diretor artístico Carlo Chatrian.

"Apenas quando os filmes são assistidos pelas pessoas [...] é que essa cultura [cinematográfica] tem todo o seu impacto", afirmou a diretora executiva do evento, Mariette Rissenbeek.

Além do francês Ozon, outros cineastas famosos disputam o Urso de Ouro, como a francesa Claire Denis ("Avec amour et acharnement"), Ursula Meier ("The Line") ou o sul-coreano Hong Sangsoo ("So-Seol-Ga-Ui Yeong-Hwa").

Dezoito filmes estão na mostra oficial, que inclui "Alcarrás", da espanhola Clara Simón, "Un año, una noche", do realizador espanhol Isaki Lacuesta, e "Manto de gemas", da mexicana Natalia López Gallardo.

O italiano Dario Argento, um nome consagrado do cinema de suspense, apresenta "Occhiali Neri", fora de concurso. Ele dirige a filha Asia, que no ano passado revelou num livro o seu traumático início na carreira de atriz.

A Berlinale dá amplo espaço para filmes experimentais e novos nomes, com vários eventos paralelos à mostra oficial.

"Mato seco em chamas", uma coprodução de Brasil e Portugal, dirigida por Adirley Queirós e Joana Pimenta, será exibido na mostra Fórum.

A imprensa alemã criticou a organização do evento, num momento em que aumentam os contágios de COVID-19 pela variante Ómicron.

O festival pode tornar-se uma "catástrofe" se se tornar um "evento super contagioso", criticou o jornal Berliner Morgenpost, enquanto o Die Zeit classificou o evento de "irresponsável".

(*) Atualizado às 19h15 com declarações sobre o filme de François Ozon.

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