Este responsável, que é conselheiro do Programa Media da União Europeia e director do
Ourense International Film Festival, está no Porto a convite do 29º Fantasporto, onde a cinematografia da Galiza é este ano homenageada.

Enrique Nicanor está na génese da criação da
AGA, em 2005, pela Junta (Governo Autónomo) da Galiza, visando apoiar a produção cinematográfica na Galiza e promover a sua divulgação.

Como não tem interlocutor institucional oficial no Norte de Portugal, a AGA tem vindo a fazer distintas propostas em várias áreas ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), em Lisboa, mas nada tem avançado.

Nicanor defende que "há que criar um veículo estratégico que facilite a co-produção entre Portugal e a Galiza, cuja afinidade cultural é enorme. Seremos mais fortes se avançarmos juntos. Tivemos êxito com países nórdicos, França, Alemanha, em toda a Europa, só aqui em Portugal não tem resultado", afirmou.

A Galiza tem uma experiência avançada e original no apoio ao desenvolvimento do cinema, que resultou num "aumento notável da produção cinematográfica da região".

O primeiro passo foi a criação da AGA pela Conselleria da Cultura (equivalente a um ministério) da Junta da Galiza, com a missão de se ocupar do financiamento do cinema galego e da sua promoção interna e externa.

Mais recentemente, a Junta da Galiza criou, em Junho de 2008, inspirada pelo Programa Media da União Europeia, a
Agência Galega das Indústrias Culturais (AGADIC), que superintende toda a fileira criativa da região, desde a música ao teatro e todas as artes de palco, até à literatura e ao design.

"A criação da AGA, que é agora um departamento da AGADIC, foi decisiva para o desenvolvimento do cinema na Galiza, porque centrou o seu esforço no apoio às novas gerações de cineastas e às novas tecnologias, sobretudo o cinema digital, que permite uma capacidade de produção maior", afirmou Enrique Nicanor.

Tudo isto é feito com verbas da Junta, a que se somam comparticipações do Governo central, e subsídios comunitários, entre os quais os do Programa Media.

A AGA criou também uma rede na Internet denominada Flocos, que disponibiliza, online, a todos os municípios da região, a produção cinematográfica da Galiza das últimas duas décadas em suporte digital de alta tecnologia, organizada em ciclos temáticos.

Esta programação é exibida nos "Cinemas Digitais", uma rede criada em todos os municípios da Galiza, com o apoio da Junta.

"Os frutos de tudo isto estão aí, na dinâmica da nova geração galega de cineastas", afirmou Enrique Nicanor, sublinhando que esta rede poderia também exibir ciclos de cinema português, através de acordos de reciprocidade.

Para este responsável, a criação destas redes é "essencial" para enfrentar o problema da distribuição e exibição, já que em Espanha, tal como em Portugal e na generalidade da Europa, a esmagadora maioria das salas comerciais de cinema são propriedade dos distribuidores.

"Por sua vez, estes, intimamente ligados (por propriedade ou acordos) aos grandes estúdios dos EUA, privilegiam o cinema norte-americano, relegando as produções nacionais ou de outros países para segundo ou terceiro plano. Muitas nem chegam a ser exibidas comercialmente", afirmou.

Desta situação resulta que os espectadores europeus dificilmente conseguem ver cinema que não seja norte-americano, excepto em festivais, que ocorrem uma ou duas vezes por ano.

Com a criação daquelas redes a AGA abriu a possibilidade de que os filmes galegos e o cinema independente possam ser vistos em toda a região.

SAPO/LUSA