O movimento que quer banir o uso de armas verdadeiras nas produções de Hollywood ganhou em Dwayne Johnson um aliado de peso.

A maior estrela do cinema de ação revelou que a sua produtora não voltará a usar armas verdadeiras nos filmes e séries após o incidente no 'western' de baixo orçamento "Rust" em que um disparo acidental do ator Alec Baldwin matou a diretora de fotografia Halyna Hutchins.

"Acho que criou um novo prisma, uma nova perspetiva sobre a forma de trabalhar daqui para a frente. [...] Por pior que tenha sido a situação - e ainda é - temos de usar isto como um exemplo para aprender com este caso, para seguir em frente. Ser mais seguro", disse o ator esta quarta-feira numa entrevista na passadeira vermelha do seu novo filme de ação "Red Notice" (disponível na Netflix a partir de dia 12).

"A partir de agora, nas produções da Seven Bucks, seja para a televisão, o cinema ou para outro meio, nunca mais vamos usar armas verdadeiras", garantiu aquele que também é um dos produtores mais importantes na indústria.

"Vamos usar armas falsas e, depois, tratamos do resto na pós-produção. Não queremos saber do dinheiro, dos números, do custo", reforçou.

O chefe-eletricista Serge Svetnoy e a diretora de fotografia Halyna Hutchins (Facebook)

As autoridades continuam a investigar o que aconteceu no set da rodagem de "Rust".

Na semana passada, o Xerife Adam Mendoza deu uma conferência de imprensa onde prestou as primeiras informações oficiais.

O polícia confirmou que a bala disparada era uma munição real e que acabou alojada no ombro de Joel Souza, o realizador de "Rust", que estava atrás de Halyna Hutchins na altura do acidente, tendo sido recuperada e entregue como prova.

Foram também recolhidos cerca de 600 indícios de prova, incluindo a arma disparada pelo ator, e 500 munições do local de rodagem, uma mistura entre balas modificadas ("blanks") e outras que se suspeitam que sejam balas verdadeiras.

Todas as provas seriam entregues ao FBI para mais testes, indicou Adam Mendoza.

Durante a conferência foi também confirmado que três pessoas manusearam a arma do disparo: Alec Baldwin, o assistente de realização Dave Halls e a armeira Hannah Gutierrez Reed.

Na conferência de imprensa esteve ainda presente Mary Carmack-Altwies, a procuradora do Ministério Público, que confirmou que não tinham sido feitas detenções ou acusações mas que, naquele momento, "tudo está em aberto", acrescentando que era necessário ter uma investigação mais aprofundada para avançar com acusações formais.

Respondendo a perguntas dos jornalistas, Adam Mendoza disse que as autoridades suspeitavam da existência de outras balas verdadeiras no local da rodagem, o que só poderia ficar esclarecido com os testes.

"Vamos averiguar como é que lá chegaram, por que é que estavam lá, porque não deveriam estar lá", esclareceu.

Documentos oficiais revelam que a armeira terá dito aos investigadores que as armas foram mantidas em segurança até pouco tempo antes da tragédia, mas não as munições.

Esta quarta-feira, os seus advogados sugeriram que alguém pode ter colocado deliberadamente no set a bala verdadeira que matou Halyna Hutchins como um ato de "sabotagem".

No "Today", um programa matinal de grande audiência do canal NBC, Jason Bowles e Robert Gorence disseram que a armeira carregou a arma que matou a diretora de fotografia com balas de uma caixa com o rótulo de "balas falsas" e avançaram com a teoria que a munição verdadeira pode ter sido colocada por algum membro da equipa descontente com as condições de trabalho da produção.

"A pessoa que colocou a bala verdadeira naquela caixa tinha de ter a intenção de sabotar o set, não há outra razão para fazer isso. Acredito que alguém que fosse fazer isso quisesse sabotar o set, provar que tinha razão, dizer que estavam descontentes, que estavam infelizes. E sabemos que pessoas abandonaram o set no dia anterior", disse Jason Bowles à apresentadora Savannah Guthrie, numa alusão às informções de que sete pessoas que trabalhavam em "Rust" se tinham demitido antes da tragédia invocando questões de segurança, longas horas de trabalho, alojamentos inadequados para as equipas e a distância longa entre o local da rodagem e os hotéis.

Vários jornais, citando membros da equipa não identificados, alegaram ainda que Alec Baldwin já tinha feito dois disparos com balas reais, acidentalmente, por ter usado uma arma que lhe tinham dito que não estava carregada com munições.

Os advogados não avançaram com quaisquer indícios que sustentassem a sua teoria, mas disseram que existiu uma janela de "oportunidade" para agir no set.

"Sabemos que havia uma bala verdadeira numa caixa de balas falsas que não devia lá estar. Temos pessoas que tinham deixado o set, que abandonaram porque estavam descontentes. Temos um intervalo de tempo naquele dia aproximadamente entre as 11h00 e as 13h00 em que as armas de fogo estiveram por vezes sem acompanhamento, portanto houve uma oportunidade para adulterar o local", defenderam.

Quando a apresentadora pressionou para saber se Hannah Gutierrez-Reed tinha a responsabilidade de controlar e verificar as armas, os advogados disseram que ela acumulava a função de assistente de adereços na produção com a de armeira e não conseguiu tomar conta delas durante aquelas duas horas. No entanto, confirmaram que tinha rodado o tambor para o assistente de realização Dave Halls inspecionar e não estava presente dentro da igreja quando a arma foi disparada por Alec Baldwin.

Na versão que contou à polícia, o assistente disse que não tinha a certeza se tinha inspecionado todas as cartuchos ou se Gutierrez-Reed lhe tinha mostrado o tambor antes de entregar a arma ao ator dizendo "cold gun" ("arma fria", um termo na gíria cinematográfica que significa que a arma de adereço é segura por não estar carregada com munições verdadeiras).