Bob Marley faz parte daquela lista já vasta de músicos que morreram jovens, no auge da fama e do talento, e cuja despedida do mundo dos vivos fez aumentar de forma desenfreada o mito em seu redor. Jim Morrison, Jimmy Hendrix ou John Lennon são casos em que a vida e o mito se confundem, tal como o é também o músico da Jamaica que se tornou o símbolo máximo e incontestado do «reggae» e do movimento rastafari.

O realizador escocês
Kevin Mcdonald quis ir além do mito num projeto que começou há sete anos, e cujo plano original era o de seguir um grupo de rastafaris em viagem de Kingston até à Etiópia, berço espiritual do movimento, para assistir a uma celebração do 60º aniversário do nascimento de Marley.

Apesar do tempo que passou na Jamaica a pesquisar a vida do artista, o filme acabou por não ir para a frente, mas o esforço deu frutos: Chris Blackwell, o fundador da Island Records e impulsionador da carreira de Marley, pediu-lhe para se encontrar com a família do cantor para dirigir um documentário oficial sobre ele. Segundo consta, os oscarizados Jonathan Demme e Martin Scorsese, que têm feito uma importante carreira paralela na área do documentarismo musical, também foram chamados à reunião com os muitos filhos do artista, mas acabou por ser Mcdonald a ficar com o projeto.

Em entrevista ao «Hollywood Reporter», Mcdonald assumiu que «o que é espantoso sobre Marley é que ele é absolutamente único. Não há outra super-estrela como ele que tenha vindo do Terceiro Mundo — ele é o único que fala para os países emergentes. Ele não é apenas um músico popular, é um filósofo. Ele é um profeta para eles. É alguém que dá conselhos e ajuda em tempo de necessidade. Não há mais ninguém que seja assim. Foi por isso que eu quis fazer um filme sobre ele, para perceber o que ele estava a dizer e porque é que ele o estava a dizer e porque é que a música dele tem esta ressonância contínua».

Com produção executiva de Ziggy Marley, filho de Bob, e de Chris Blackwell,
«Marley» reune um grande acervo documental de época e entrevistas com uma grande variedade de pessoas que privaram com o artista, tentando fugir ao lado mais folclórico que envolve o cantor.

O realizador Kevin Mcdonald ganhou no ano 2000 o Óscar de Melhor Documentário com
«One Day in September», sobre os atentados nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972, e mais tarde assinou filmes de ficção como
«O Último Rei da Escócia»,
«Ligações Perigosas» e
«A Águia da Nona Legião».