O documentário “João Ayres, pintor independente”, que é exibido hoje no DocLisboa, é o contributo do realizador Diogo Varela Silva para “resgatar a memória” de um artista a quem Portugal “falhou no reconhecimento”.

Durante os meses de pandemia, Diogo Varela Silva foi “desafiado” pelo neto mais velho do pintor João Ayres (1921-2001), Diogo Camilo Alves, “para visitar a casa-ateliê que era do avô e onde está a sua obra toda”, em Vale de Lobos, uma localidade no concelho de Sintra.

Em declarações à Lusa, o realizador contou que “ao ser confrontado com a grandeza da obra” de João Ayres, “com o tamanho e com a variedade”, ficou “fascinado” e começou a debruçar-se mais sobre o trabalho do artista, acabando “por descobrir também, através do Diogo, os seus ensaios, os seus pensamentos”.

“Achei que havia de alguma maneira tentar ajudar o Diogo nesta missão que tem de tentar resgatar a memória do avô, e a importância que acho que João Ayres tem na arte contemporânea, tanto portuguesa como moçambicana”, disse.

João Ayres nasceu em Lisboa em 1921 e mudou-se para Moçambique em 1946, onde, três anos depois, realizou a sua primeira exposição em nome individual, às quais se seguiram muitas outras, tanto a solo como coletivas.

Diogo Varela Silva recordou que o pintor “expôs na bienal de São Paulo e do Rio [de Janeiro], teve direito aos salões principais, e está em muitos museus, não só da Europa, mas de África e do Brasil também”.

“Houve aqui alguma coisa que falhou da nossa parte, enquanto país, no reconhecimento [deste artista]”, lamentou o realizador, enfatizando que é “realmente importante resgatar” João Ayres, que “hoje em dia já começa a ser estudado na academia”.

O filme, que conta com a participação de Diogo Camilo Alves, aborda “a obra e a vida do João Ayres, enquanto artista”, “aquela casa [em Vale de Lobos], onde estão os quadros todos e foi o ateliê dele nos últimos anos de vida”, e “este trabalho e esta vontade enorme de ver o neto a tentar resgatar o nome do avô”.

O filme está “para já a fazer o percurso dos festivais” - já foi exibido em Timor-Leste e esta semana será também nos Estados Unidos -, “há previsão de passar na RTP” e Diogo Varela Silva espera, “antes disso, conseguir que se estreie comercialmente em sala”.

Além disso, o realizador gostava “de mostrar o filme em Moçambique, até porque houve algumas filmagens que foram feitas lá e faz todo o sentido o filme ser visto lá”.

“Moçambique teve uma importância enorme na carreira do João Ayres. Nota-se nas cores, nota-se nos temas pintados que ele foi influenciado por Moçambique. Era impossível não ser, estando lá tantos anos”, referiu.

“João Ayres, pintor independente” é exibido hoje, às 19h00 no Cinema São Jorge, na Sala Manoel de Oliveira. O filme integra a secção competitiva “Heart Beat” do DocLisboa, que decorre até domingo.

A última exposição de João Ayres aconteceu na Galeria Municipal de Fitares, em Sintra, em 2000, tendo na ocasião sido distinguido pela Câmara Municipal de Sintra com a medalha de mérito municipal de prata. A título póstumo, a autarquia de Sintra, concelho onde viveu e trabalhou durante 30 anos, homenageou-o com a medalha municipal de ouro.

Até 6 de janeiro, é possível visitar-se, na Galeria Zé dos Bois (ZDB), em Lisboa, a mostra “Nanquim Preto sobre Fundo Branco”, composta por três conjuntos de pinturas e desenhos, criados por João Ayres entre 1947 e 1959.

Em Moçambique, João Ayres foi também professor de pintura e desenho no Núcleo de Arte em Maputo, “tendo formado grande parte de artistas locais como Malangatana, José Júlio, António Bronze, Mankew e Bertina Lopes”.

Algumas das telas apresentadas em “Nanquim Preto sobre Fundo Branco” foram mostradas pela primeira vez na primeira exposição individual do pintor, em 1949.

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