3 FACES

O IndieLisboa está a chegar ao fim, mas antes do há oportunidade de ver "3 Faces" (foto), o último filme de Jafar Panahi, que por esta altura coleciona uma grande quantidade de prémios internacionais – entre os quais o Urso de Ouro no Festival de Berlim com “Taxi” (2015) e, no caso deste projeto, o de Melhor Argumento na edição passada do Festival de Cannes.

Num país ainda fortemente patriarcal, o cineasta, que enfrenta há anos problemas com as autoridades do Irão, focou a sua história em três mulheres – todas atrizes. Uma delas vive as suas vicissitudes antes da Revolução de 1979, que colocou o conservador ayatola Khomeini no poder, outra é uma estrela no mundo contemporâneo – que parte até os confins do país para procurar uma jovem artista que lhe enviou um pedido de socorro. O próprio Panahi surge na história, a fazer de si mesmo.

DIVINO AMOR

A religião também anda a afetar, não necessariamente da melhor forma, outro país – este mais próximo das tradições laicas ocidentais.

Num local muito marcado fenómeno evangélico, o brasileiro Gabriel Mascaro, depois do icónico “Boi Neon”, imaginou em formato de ficção científica a história de um país de 2027 dominado pela doutrina religiosa do “Divino Amor”.

É neste ambiente que circula a sua protagonista, vivida por Dira Paes, que usa a sua influência na conservatória para evitar a todo custo que haja divórcios. Mas numa sociedade onde o ideal de realização é ter filhos, a sua dificuldade neste quesito vai levá-la a uma grande crise.

QUERÊNCIA

As paisagens rurais do interior brasileiro surgem em “Querência”, de Helvécio Martins Jr., exibido na Forum do Festival de Berlim.

Conta a história de um vaqueiro com uma vida tranquila, até a sua vida ser transformada pelo assalto (inspirado numa história verídica) que viria a tornar-se na maior história de roubo de gado da região.

Numa sugestiva entrevista dada ao jornal Estado de São Paulo durante o festival, o cineasta disse que o seu cândido protagonista “é uma antítese do Brasil de hoje, cheiro de ódio. O país é uma grande vergonha mundial”.