Em Espinho, disse, não são precisos concertos para dar valor ao festival. Mas na noite de entrega de prémios houve um concerto especial.
É coisa invulgar de se ver numa entrega de prémios de um festival de cinema mas houve um coro infantil de dezenas de crianças em palco. A recordar as memoráveis cerimónias do Sequim d’Ouro mas com um propósito bem argumentado: uma academia musical de Espinho trabalhou numa curta-metragem animada baseada no conto de
Mia Couto,
«O Gato e o Escuro», e musicou-a, ao vivo, com direito a narração e a coreografia.
São sempre grandes épicos, as cerimónias de encerramento de qualquer festival de cinema. Mas no Cinanima ainda são mais. Com a maior das boas vontades e com o sempre notório esforço para não tornar a noite numa maratona de discursos elogiosos mais eficientes do que o mais forte dos soporíferos, no Cinanima há todos os anos momentos de ingénuo embaraço a ficarem nas actas do festival. Este ano houve fartura.
Ao fundo, no palco, estiveram desde o início e até ao último minuto duas actrizes em modo estátua. Para entregar cada um dos prémios, foi contratado um grupo de actores cujo maior ídolo, não sobraram dúvidas, é Rowan Atkinson e o seu Mr. Bean. Entre risos e olhares constrangidos, os laureados lá foram levando as estatuetas das mãos dos comediantes.
Mas há mais duas características dos fechos do Cinanima que nunca faltam. Primeiro, a sempre difícil tarefa que se revela ser a tradução dos ditos da noite do português para o inglês. Depois, o momento em que o director do festival,
António Gaio, de 85 anos, deixa a plateia comovida com o seu tradicional discurso.
Apesar da idade, António Gaio segue, imponente, até ao palco. Chega, testa o microfone com um convicto sopro que põe a sala a gargalhar, e avança destemido para um discurso emocionado.
Remata dizendo que o Cinanima não precisa de artifícios, basta-lhe o bom cinema e os convidados de peso. Não são precisos concertos ou outros chamarizes para levar o certame até outro patamar. Ali toca-se outra partitura. Como diz António Gaio, «connosco a música é outra».
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